Namorado para sempre
A juventude tem a beleza própria da idade. Quando vejo um jovem ou uma jovem sem atrativo nenhum, à primeira vista, tento descobrir algo a mais e termino encontrando, é uma forma de falar, de rir, que faz a diferença. A jovem a que vou me referir era,então, favorecida pela idade e por atrativos visíveis, além de ser simpática e bondosa. Corpo bonito, cabelos lisos e dourados chamavam atenção de todos. Escutava inúmeros elogios, inclusive por parte dos rapazes. Não sei se era consciente do seu charme. Apareciam pretendentes, mas ela não sentia atração nenhuma pelos jovens do seu meio. Filha única, era estudiosa, respeitadora, educada e trabalhadora. Seus pais se orgulhavam dela e não era para menos. Sonhavam com um casamento para ela. Sonho deles, não dela. Gostava da vida que levava, com festinhas, estudos, paqueras e se divertir. Longe de planos de ter um homem como marido,naquela idade. As amigas sonhavam com casamento, mas ela, ou por leituras, ou por temperamento, não queria se amarrar em ninguém. A vida era tão boa, por que se prender? Seus pais era um exemplo de casal, unidos, companheiros e pais dedicados, mas longe dela pensar em ”amarração”.
Um dia, chega um grupo de jovens de uma cidade vizinha para uma festinha. Os olhos dela se cruzam com um que parecia Anthony Quinn. Passou a imagem de um rapaz másculo e traços fortes. Conversaram durante a festa e nem dançaram para não perder tempo; queriam ficar juntinhos, trocando carinho e ideias. Tinha por volta dos seus dezenove anos e ela com seus quatorze. Foi paixão mesmo. Promessas de cartas. Ela estranhou não receber nenhuma, ao longo dos meses. Chega um conhecido e lhe entrega uma carta do jovem. Era amor e desespero; não entendia como não respondia as inúmeras cartas enviadas pelo correio. Descobriu, com tristeza, que sua mãe era a autora do sumiço das cartas de amor. Confessou a mãe que o rapaz ideal para ser seu marido era outro já escolhido e ai dela se contrariasse. A ameaça estava no ar. Resignou-se e foi tocando a vida. Os pais crentes que ela tinha esquecido o apaixonado, permitia que fosse às festinhas.
Foi a vez dela de ir a uma festa na cidade do rapaz. Encontrou-se com ele e a paixão voltou. No dia do retorno à sua cidade, ele vinha no mesmo trem com destino à capital. Quis que ela não descesse e fugisse com ele para a casa em que vivia em Maceió, juntamente com seus irmãos, para estudar. Ela sentiu medo dessa decisão e, sensatamente (será que adolescente é sensata?) respondeu que não!
Chegou a época de ir estudar na capital e os pais, talvez sabedores de sua paixão, ameaçou-a e prometeu mandá-la interna para um colégio, em um estado distante, caso chegasse a se encontrar com o tal rapaz. Seu amor não foi grande para fazer enfrentamento; ela voltou a pensar nos planos de estudar muito e se divertir, também. O dele era enorme e deve ter sofrido muito.
O rapaz fez Medicina e, ainda como estudante, casa com uma moça mais velha. Nunca perdeu oportunidade de revelar ser da garota o eterno namorado, falando nela com os parentes dele, os da jovem e com amigos comuns. Teve uma filha e exigiu ser colocado o nome da eterna amada, assim haveria constância da lembrança daquela que foi, até o fim de seus dias, a namorada para sempre.