SMACK: a história dos beijos

Durante muitos anos, em vez de escrever “atenciosamente”, “carinhosamente”, “abraços”... era com o termo SMACK que eu encerrava as cartas que escrevia aos meus correspondentes. Para quem ainda não “sacou”, esse é o barulho de um beijo estalado na bochecha. Por gostar tanto deste som, este é o tema de nossa crônica de hoje.

Investigando a sua história, descobri que ninguém sabe direito como surgiu o primeiro beijo da humanidade. Dizem que as referências mais antigas a eles foram esculpidas por volta de 2.500 a.C. nas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia. Há quem diga que o beijo surgiu das lambidas que os homens das cavernas davam em seus companheiros em busca de sal. Outros dizem que o beijo seria originário dos gestos de carinhos das mulheres primitivas, que, talvez, a exemplo dos passarinhos, mastigavam o alimento e o colocavam na boca de seus filhos. Já Charles Darwin, durante as suas pesquisas sobre a evolução das espécies, ficou convencido de que o beijo era uma evolução das mordidas que os macacos davam nos parceiros durante os ritos pré-sexuais.

Pesquisando um pouco mais, descubro que, na Suméria (região da antiga Mesopotâmia), as pessoas costumavam enviar beijos para os céus, endereçados aos deuses. Na Antigüidade, o beijo materno era bem comum, mas o beijo na boca, entre cidadãos da mesma classe social, era uma saudação praticada pelos persas.

Entre gregos e romanos, os beijos eram comuns entre os membros de uma família, entre amigos íntimos ou entre guerreiros no retorno de um combate. Os gregos adoravam beijar, mas foram os romanos que difundiram esse costume. Aliás, dizem que os imperadores de Roma permitiam que os nobres mais influentes beijassem seus lábios (olha só de onde veio a boiolagem!), enquanto os menos importantes tinham de beijar suas mãos, e os súditos podiam beijar apenas seus pés (agora veja onde começou a sacanagem!).

Na língua falada pelos romanos, o latim, há três palavras distintas para significar beijo: osculum, beijo na face; basium, beijo na boca; e saevium, beijo leve e com ternura.

Descobri, também, que, antigamente, na Escócia, com basium ou saevium, o padre (sabido!) beijava os lábios da noiva no final da cerimônia de casamento, sob o argumento de que a felicidade conjugal dependia dessa benção. Interessante é que, na festa, a noiva deveria circular entre os convidados e beijar todos os homens na boca (Eca! Tá pensando que naquela época a água era fluoretada ou que existia creme dental? A maioria tinha os dentes podres!!) , que em troca lhe davam algum dinheiro (isso lá é coisa de mulher decente?)

Caminhando na linha do tempo, descobri que na Rússia, uma das mais altas formas de reconhecimento oficial era um beijo do czar; e que no século XV, os nobres franceses (foram eles que, desde 1920, inventaram o beijo na boca) podiam beijar qualquer mulher que quisessem, mas na Itália, se um homem beijasse uma donzela em público, era obrigado a se casar com ela imediatamente.

Há japoneses que consideram “sujo” ou indecoroso o ato de beijar. Eles já chegaram ao extremo de mandar apagar 243.840 metros de cenas de beijos em filmes norte-americanos. Aliás, também há americanos que consideram o contato dos lábios prejudicial à saúde, chegando ao ponto de criarem a Liga Antibeijo, desde 1909. Esse pessoal poderia simplesmente adotar o beijo dos esquimós, que expressam carinho esfregando seus narizes.

Ao longo de minha vida, eu que tenho tido prazer em abraçar e oscular verdadeiramente as pessoas de quem gosto, tenho encontrado alguns “japoneses” e “americanos” que se retraem diante de minha efusividade. Não vale a pena lhes dizer que “no fundo e no raso” o problema pode estar na “trava” ou no medo de cada um.

Diante de pessoas muito queridas, costumo insistir em ser eu mesma, sem confidenciar-lhes o que me impele a ser assim: a certeza de sermos pequenos demais diante do tamanho do universo, e nada diante da morte que nunca se anuncia.

Se algum dia eu não mais encostar meu coração no seu e os meus lábios no seu rosto; saiba que eu descobri que não vale mais a pena enquadrá-lo(a) no início do parágrafo anterior.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 01/07/2011
Reeditado em 23/02/2023
Código do texto: T3068634
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