O Tempo

Chega um dia que a gente cai em si e vê que o tempo passou. Nada pode nos sacudir mais internamente que a passagem do tempo. E ele não para, disse o poeta. Nos vemos, muitas vezes, tentando disfarçar as marcas do tempo, mas as mãos não nos deixam mentir. Só elas nos lembram a precisão absoluta com que o tempo passa. Podemos até usar luvas para não vê-las, todavia elas estão lá, envelhecidas.

É estranho que justo as mãos nos demonstrem as marcas do tempo... mãos que são metáforas de tantas coisas... mãos que trabalham, mãos que carregam as alianças, que unem, que despedem, que seguram, que descartam, que escrevem.

Pensando bem, nada melhor que as mãos para nos mostrar que não somos invencíveis. Pelo menos no que diz respeito ao tempo, não me interessa refletir aqui se somos invencíveis em outras situações; mas em relação ao tempo... sei que não podemos driblá-lo, podemos apenas disfarçá-lo em nós.

O tempo é o maior amigo e inimigo também, de todas as pessoas. O tempo que cura mágoas, que vence ressentimentos; o tempo que leva as pessoas de mais idade para longe de nossas vidas, mesmo que fiquem em nossos pensamentos; o tempo que nos envelhece. O tempo não é bom nem mau, mas está ali, impreterivelmente e sempre.

Quando crianças, queremos crescer logo, queremos que o tempo passe rápido; quando velhos queremos voltar no tempo, queremos de volta a vivacidade da juventude. Mas tudo isso são apenas desejos; e desejos o que são? Não sabemos exatamente...

Muitos poetas falaram sobre o tempo. Gregório de Mattos, o boca do infernos, questionou poeticamente a transfiguração da beleza através do tempo, a pouca duração da luz e o fim pelo gosto da pena; Fernando Pessoa ressaltou que o sal do mar misturou-se ao sal das lágrimas de mulheres que esperaram fervorosamente o retorno dos seus amores; sejam eles filhos, maridos ou noivas que ficaram por casar... ainda no território de Portugal, o povo esperou pelo retorno de Dom Sebastião, o rei salvador. Constatação, em Gregório, espera em Pessoa e esperança no mito sebastiânico, tudo isso está ligado ao tempo; seja ele interno ou externo. E torno a lembrar Cazuza quando dizendo de forma sofrida "o tempo não para, não para..."

Sei que precisamos garantir o agora e se ficarmos bem perto dos que amamos garantiremos a vida presente, o momento presente. O tempo é o agora. Vamos vivê-lo.

Barbara Bittencourt
Enviado por Barbara Bittencourt em 30/06/2011
Reeditado em 01/07/2011
Código do texto: T3067678