Espinosa Contemporâneo
(Crônica com que venci uma olimpíada de produção textual na minha escola)
Sentado num banco de praça. Estou numa dessas metrópoles cosmopolitas e conurbadas, ante a multidão solitária que invade as manhãs das passarelas e avenidas, caótica em sentidos e direções diferentes. Lugar ideal para um filósofo desempregado absorve-se em devaneios sobre a vida planetária. Tudo o que me cerca tem aspecto sujo, saturadas de lixo jazem as sarjetas. Ao longe, vejo um gari com a difícil tarefa de dar ares dignos de civilização ao que mais se assemelha ao caos. O problema do lixo nos centros urbanos é exterior à minha existência, mas bem sei o quão é insondável e negligente tal comportamento humano quanto ao seu habitat. Enquanto absorto nas lembranças do que aprendera no ginásio sobre educação ambiental, não percebi que um gari se sentou ao meu lado. Não tenho certeza se aquele era o mesmo que me serviu de inspiração para reflexões sobre o cuidado do espaço que nos circunda. Lânguido, o gari bateu com força a sua bota direita a fim de espantar os muitos pássaros que cercavam o banco. Odores à parte, ele expressava traços de altivez num vulto envolto de mistério e desconfiança.
-Há quanto tempo você está nesse trabalho? Iniciei a sabatina. Ele mexeu os lábios. Antes que emitisse qualquer som acumulei mais uma interrogação:
-Qual o seu nome?
-Meu nome é Bento de Espinosa. Trabalho nisso há 8 anos. Perdi tudo no jogo. Disse num tom resoluto, sem eufemismos.
-Como as pessoas poderiam fazer para cuidar melhor do planeta e do ambiente em que vivemos?
-Não sei Senhor. Só sei que se ninguém sujasse a rua, eu perderia meu emprego. Mas, eu acho que “a natureza não pertence ao homem, e sim, o contrário”. Eu acho que a terra se comporta como um ser inteligente. “Como vemos em nossos dias, o homem, está emitindo gases poluentes na atmosfera, está desmatando as floretas que em grande parte são responsáveis, através da fotossíntese, em transformar o gás carbônico em oxigênio. O planeta responde a tudo isso através do efeito estufa e das mudanças climáticas”
Fiquei atônito ante a inteligência e linguagem do lixeiro, que se despediu repentinamente:
-Até breve, Senhor!
“Uma mente dessa era pra estar entre aquelas que comandam o mundo”. “Poderia fazer algo que mudasse o quadro”. Eu pensei. Fui embora do banco de praça.