MARIA DA FÉ, A TULIPA NEGRA E A AZEITONA NÃO COLHIDA



 
 
Maria da Fé é um nome que surgiu na minha vida há muito tempo. Uma cidadezinha no sul de Minas, de clima frio, e sua característica mais encantadora, aos meus olhos, era que tinha as calçadas arborizadas com pés de azeitonas! Se não as destruíram, hoje são oliveiras já bem velhas. O marido era dono de duas áreas lá.
O casamento aconteceu com comunhão de bens, e de bens mesmos foram só os filhos que tive. Mas a cidade e o terreno não cheguei a conhecer.

O tempo passou, a vida passou.
A vida é simples, mas para alguns é complicada. Hoje, nem meus filhos querem ir até lá. O que era doce virou azedo. A gente se vê ignorada e aceita, e se desapega das coisas e gentes. Dos bens. E dos sonhos. Sentimentos vagos e desacertos, tristeza e desistência. De quê? Desprendendo-me deles e de mim.

Eu sou Robinson Crusoé falando com minha alma. Há palavras que têm um sentido de vida, de aventura, de encanto que não sei explicar, só sentir.
Cordoalhas, ondas na quina do navio. O mar com suas caravelas e os rios de água pura. Uvas secando no varal para o inverno de abastança e prazer. Tulipas. A brotação. O chão varrido lisinho. O ar bom lá fora. O bem da inteligência, o sabor do carinho, do conviver com harmonia, da solidão, da paz. A aventura da vida. O ficar juntinho. O ficar livre e independente, horizontes abertos.
 
A tulipa negra e a azeitona não colhida.
 
 
 
 
 
MLuiza Martins, 29/06/2011