Proibições Alucinantes
As armas tomaram conta das ruas. A despeito das restrições ao porte de armas pelos civis, a utilização delas é cada vez maior no meio urbano. Avisaram aos cidadãos que eles não podem usar armas de fogo, mas esqueceram de dizê-lo aos que vivem à margem da lei e fazem das armas as suas empresas ou meio de vida.
Em que pese o estabelecimento de limites de velocidade, com a multiplicação de dispositivos eletrônicos, fixos ou móveis, de aferição das velocidades, espalhados pelas estradas ou vias urbanas, os acidentes continuam acontecendo. E em número cada vez maior, sobretudo durante os feriados prolongados. O que até pode ser considerado normal, se levarmos em conta a preponderância quase que absoluta (em nosso país) do modal rodoviário como meio de transporte terrestre. Se a malha ferroviária voltasse a ter pelo menos a extensão que já teve, o número de acidentes seria menor, porque acarretaria necessariamente a diminuição em nossas ruas e estradas da circulação de veículos automotores.
E o que dizer do uso de drogas, o álcool incluído? As pessoas não podem se reunir para fumar maconha, mas podem se reunir em churrascarias, nos chamados clubes de whiskey, para o consumo livre dessa bebida. Uma ou duas garrafas de whiskey, dependendo do indivíduo, pode levá-lo ao estado de coma no final da noite ou pela manhã ao acordar. De que adiantam as severas punições impostas aos que são flagrados fumando maconha ou cheirando cocaína ou cola de sapateiro nas esquinas? No Rio de Janeiro existe até a cidade do crack, a cracolândia, localizada em Madureira. Por ter sido flagrado fumando uma “guimbinha” de maconha, se não tiver dinheiro, o sujeito pode ser jogado numa cela, junto com infratores de maior periculosidade, e ser, por exemplo, sodomizado. Será, contudo, mantido numa cela separada durante o tempo em que puder arcar com o custo para isso. Mas tais procedimentos punitivos não vão impedir que muitos outros façam uso cada vez mais intenso da canabis sativa, já disseminado nas grandes cidades e até no interior.
Aliás, a proibição ao uso de drogas decorre, entre outros fatores, da preocupação da sociedade com a saúde das pessoas. Por que então não restringir ou proibir o consumo de carne vermelha, alimento altamente cancerígeno (adoro uma picanha fatiada no alho), e que apodrece dentro da gente após ser ingerido?
E os crimes contra a mulher, esse ser extra-terreno que suscitou nos grandes centros uma delegacia especializada para NÃO resolver os casos de violência contra ela calcados num machismo cada vez mais exacerbado? Ou os crimes contra o erário, tipo de ilícito vinculado em geral aos políticos, aos juízes, promotores e demais integrantes do Judiciário ou funcionários estatutários do alto ou médio escalão do serviço público?
Parece que a solução talvez pudesse estar no que disse um compositor há algum tempo: “É proibido proibir”. Ao cidadão, desde a tenra infância, em casa e na escola, deveriam ser disponibilizados recursos espirituais (não confundir, pelo amor de Deus, com igrejas de qualquer natureza) e materiais que o capacitassem (ele mesmo) ao hábito de discernir ou filtrar toda e qualquer ação que viesse a cometer. Ele seria o seu primeiro juiz, a sua primeira proibição. Depois viriam as da sociedade. Que, nessas circunstâncias, seriam em número bem menor que a enxurrada de leis que acabam não servindo pra quase nada. Já que as chamadas atitudes inconvenientes, os ilícitos ou crimes de qualquer natureza não param de proliferar.