BAFO DE COBRA

Fui com minha mulher, Dona Mari, os pais do Tomás e ele, o lourinho sapeca, passar o feriadão na aprazível Capitólio, aos pés da Serra da Canastra, próximo à nascente do Velho Chico, um lugar maravilhoso, ótimo para passeios, descanso e reflexões. O pessoal da casa, Sebastião e Delma, os sogros do Daniel, pais da Karina, sempre nos recebem muitíssimo bem, com aquela velha e tradicional hospitalidade mineira, de forma que nos deixam muito à vontade.

Após os abraços e a recepção da chegada, os anfitriões nos convidaram para o famoso café vespertino, à moda capitolina, no dizer do avô materno do Tomás, com a mesa farta ostentando pães de queijo quentinhos, biscoitinhos, biscoitão fofo, queijo canastra, salaminho italiano, requeijão, doce de leite, salada de frutas, sucos de laranja, lima, limão e o famoso café preto da Fazenda Pinheiro. Um exagero de quitutes, para as gentes da cidade grande mas coisa comum no dia a dia do povo interiorano.

E o papo rolou gostoso, com o casal anfitrião querendo saber das novidades, o lourinho Tomás já entrosado com sua prima Maria Eduarda, brincando lá fora e nós naquela prosa comprida que prometia ir pela noite adentro.

No dia seguinte, começou tudo de novo a partir das nove horas e lá pelo meio dia, exatamente às doze horas em ponto, resolvi dar uma volta pelos arredores, descendo a rua larga do condomínio em direção á beira do lago que se descortinava com uma visão estonteante. Cheguei sozinho, pois o Tomás e a Duda estavam na piscina, fui até o fim da rua asfaltada que terminava numa pracinha em formação, sem calçamento e pus-me a admirar aquele cenário magnífico, fixando meu olhar na mata densa que separava as últimas casas do condomínio do grande lago abaixo.

Magnetizado por aquela beleza, abri os meus braços, fechei os olhos e fiz uma prece muda para Oxossi, o Rei das Matas, agradecendo por tudo, o passeio, aquela natureza, o carinho dos nossos filhos, dos anfitriões e as benesses do lugar. Encerrando a prece, meu sexto sentido induziu-me a olhar para trás, por cima do ombro direito e o que vi provocou-me arrepios.

Era uma cobra cascavel (em casa, conferi na “Internet”) enrodilhada e pronta para o bote, a menos de dois metros donde eu estava. Mantive a calma, retrocedi alguns passos e parei, enquanto o réptil saía da posição de ataque e deslizava ràpidamente pela terra vermelha em direção ao gramado imenso de uma mansão ao lado. Procurei alguém para avisar do perigo, nenhuma viv’alma por ali. A maioria das casas daquele setor estava desocupada, pois seus proprietários não vieram para o feriado. Aflito, segui para a casa dos meus anfitriões, onde relatei o caso para a Dona Delma, a qual ligou para a portaria e veio um rapaz do condomínio, o qual efetuou buscas no local mas não encontrou a cobra, que deveria estar bem longe dali, por sinal.

Além do meu susto, ficou a lição e proibimos as crianças de brincarem sozinhas naquele final da rua, próximo à mata. Afinal de contas, seguro morreu de velho, não é mesmo? ...

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B.Hte., 28/06/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 28/06/2011
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T3062804
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