O PREÇO DA LIBERDADE

A liberdade é um bem que nem sempre conquistamos sem pagar. Haja vista que alguns que moram em locais dominados por milícias ou traficantes tem que pagar para ir e vir, ou para não ter seus comércios impedidos e invadidos. Também quem está recolhido em presidio paga para advogados buscarem brechas na lei a fim de serem libertos, e ou corromperem magistrados, carcereiros, delegados, etc. para o mesmo fim. Mas existe outra forma de conquista da liberdade: Abrir mão de bens materiais, fazendo como diz um dito popular: “vá-se os anéis e fiquem os dedos”. Então, se o bandido disser: “a grana ou a vida. . .” Grana se obtém de alguma forma, enquanto que a vida, indo-se, foi-se. Ainda outra forma há de se obter a liberdade, abrir mão de tudo, até mesmo da roupa do corpo.

Conheço mais de um amigo que teve que isso fazer para ter a sua liberdade e também sobreviver. Um deles viajava num pequeno barco no Rio Trombetas, um afluente do Rio Amazonas. Havia recém embarcado, depois de um dia cansativo de trabalho e atado sua rede na popa da embarcação que estava lotada de passageiros, vindo de uma mineradora com destino a uma pequena cidade onde ele residia na ocasião. A viajem era feita nas primeiras horas da noite. Ele adormeceu e quando acordou estava no fundo daquele grande rio, num local com centenas de metros de largura e grande profundida, e conhecido como “Boca do Cuminá”. Acordou e lembrou-se que estivera deitado na popa do barco. Estava de calça jeans, e com o salário do mês na carteira porta cédulas. Tratou de tirar a carteira, coloca-la dentro da cueca e se livrou da calça a fim de poder ter mobilidade e voltar à tona. Segurou o folego, olhou e viu uma luz bruxuleante, e nadou naquela direção, a qual lhe indicava ser a superfície. Era a luz da lua. Nadou até a margem, e agarrou-se a vegetação, onde permaneceu por longas horas até ser resgatado.

Outro, como eu, saiu do seu antigo lar só com a roupa do corpo. Pois, no convívio com a esposa, sempre que lhe dava alguma orientação, ela dizia: “Vou perguntar para o meu pastor”. Chegou um dia que ele não aguentou, e disse: “Então fica com o teu pastor que eu estou indo”.

Também José, cognominado de “José do Egito”, deixou a sua túnica nas mãos da esposa do seu senhor, a fim de não ser servo do pecado. Ela o assediou, por ocasião da ausência do esposo e dos demais servos dela e do marido, para que ele fornicasse com ela. Resistiu-a, e fugiu nu, mas isento de culpa. Nada obstante a sua atitude louvável, foi denunciado como estuprador e foi recolhido a um cárcere, pois o seu patrão era um dos oficiais de Faraó, rei daquele reino.

É, às vezes temos que abrir mão de tudo para preservar a vida, e ainda assim o final pode não nos trazer segurança ainda que a nossa decisão tenha sido justa. Não importa se isso acontecer, pois estaremos livres de culpa e da condenação do juízo eterno. “Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, quer seja boa, quer seja má”.