Neve é horrível...
Nós observávamos toda essa confusão em torno da neve. Há algo de subdesenvolvido nessa ingenuidade. Neve que cai bizarramente na serra gaúcha. Água congelada caindo do céu nunca é algo festejável, nem invejável. Os flocos brancos e finos que cai das nuvens é um inferno nos telhados pobres.
A última coisa que um turista deseja lembrar ou ver é pobre e pobreza. Aliás, nossa pobreza sempre foi mascarada pelas festividades olímpicas. Da minha parte prefiro a serra gaúcha no verão. Longe da piegas nevinha onde ela habita apenas o meu pacato sorvete.
A neve e o nevoeiro são perigosíssimos na estrada. O nevoeiro comum dessa época é pior do que esse neviscar que faz a folia dos ingênuos e o sucesso da televisão que faz as honras da casa. O melhor é chegar bem antes para não atravessar esse enorme perigo na estrada. Isso a televisão omite para não comprometr os lucros em geral.
Festejar a neve é intrigante. É como se dançassem em nome do Papai-Noel nictitante que chegasse num trenó abatido pela hipotermia e cheio de presentes.
Acordar no frio nada tem de sonho.
A despeito de toda essa explanação temos a beleza plástica e insensível da paisagem triunfante. As palavras mudas na língua congelada e uma certeza de que na primavera tudo é mais belo e vigoroso.
Tenho medo de neve. Medo de que ela começe a despencar mais e mais. Receio de que obedeça a esta simpatia incauta. Temor de que os telhados pobres e despreparados comecem a ruir em meio à festa. Vejo primeiro a dor angustiante das mãos pobres enregeladas e desassistidas pela nação que habitam. Vejo bebês tossindo (congeladas) e mães desesperadas em filas de hospitais roubados.
Por espontânea vontade recuso a ideia da neve. Ela dá lucro, mas é sinal de epidemia fria, caso se agrave com o passar dos anos.
No ponto em que estamos pensar em política social de calefação seria me rebaixar à condição de um tolo nevoso.
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