Pai.
Ele me amou desde quando eu estava na barriga de minha mãe. Mesmo, não acreditando ser meu pai. Ele me amou, ele pegou-me no colo olhou em meus olhinhos miúdos, e apresentou-me ao mundo como Caroline. Deu o nome, por que o achava lindo! Dizia ser nome de princesa, assim como eu era pra ele. Meus olhos cinzas se tornaram azuis.. e depois de algum tempo verdes.. mas acabaram ficando da cor do mel de uma abelha. Ele me amou, mesmo quando eu fazia xixi na roupa por ter alergia a fraldas plásticas.. ele me amou com cólicas e um choro chato no meio da noite, ele me amou mesmo com toda aquela dor na barriga, e com toda a minha fragilidade. Andava comigo pelas ruas para fazer-me adormecer, dava-me banho enquanto mamãe trabalhava. Ele me ensinou a andar, segurou minhas mãos para que eu não caísse, penteava meus longos cabelos loiros quando já tinha meus nove anos, cuidava de mim como se fosse dele mesmo. Levava-me pra passear em parques para que eu convivesse com a natureza, que já havia sido destruída pelos homens. Quando virei ‘moça’ ele me deu rosas vermelhas e me chamou desde então de mulher, me levava em festas e fazia minhas vontades adolescentes. Ele foi o PAI. Ele velou-me durante noites doentes, cuidou de minhas notas, e obrigava-me a tirar notas boas, ele brigava por eu não usar vestidos durante a missa aos domingos.. Tudo isso até que .. O senhor de seus 50 anos, não voltou mais pra casa, ficou lá mesmo na onde em que todo dia de finados íamos por flores pra vovó e para meu padrinho. Ficou lá guardado aos céus, ficou com todo aquele seu sorriso maroto, tua voz imponente e seus passos que eu sobia quando criança e andar.. E eu?! Fiquei no mesmo lugar que me deixaste, eu morri naquele dia, eu nunca mais consegui ser a filha que o senhor tivera moldado para o mundo. Decepciono-te a cada coisa ruim que eu faço. Não consigo ter a mesma ‘cor de antes’ por que naquele dia 26.. eu feneci.