RÉQUIEM À NATÁLIA
 
Lá se foi Natália. Deus, em sua infinita misericórdia, tenha piedade de sua alma lamurienta e imprecativa.
Se eu a conhecia? Eis a pergunta a me fazer. Gostaria muito! A resposta estaria pronta, na ponta da língua! Diria: é lógico que sim! Não só porque convivemos, pode-se dizer quase maritalmente,  também pelo nosso passado vindo da infância.
Diria inicialmente impulsiva; outros, no entanto, a diriam insolente; no acórdão das sentenças, creio, todos seriam unânimes em dizê-la incompatível com o gênero humano.
Gabava-se em dizer carregar consigo duas certezas: uma, que retornaria qualquer dia ao além, donde  nunca deveria ter saído; outra, que nesse dia daria expressiva banana a todos que aqui deixasse. Como se via, uma mulher de natureza reconhecidamente intratável.
Finalmente, pela graça de Deus e o consolo dos conviventes, encontrou o seu veemente desejo, aquele a quem nós, pobres mortais, embora padecendo as misérias e os tropeços da vida, preferimos prosseguir com eles. Ela, não.
Lançam-se agora, à fria sepultura, as derradeiras pás de terra. Num ato de fé e caridade cristã, elevo os olhos para o céu numa prece. Na estampa do azulado firmamento, julgo vê-la cruzando os braços no tradicional gesto de desprezo: “Aqui pra vocês, ó!”
Descanse em paz!