A volta do professor Astromar
Aristóteles foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. O homem entendia de física, metafísica, poesia, teatro, música, lógica, retórica, biologia e zoologia. Foi simplesmente um dos fundadores da filosofia ocidental.
Pois meu colega Chico Eufrausino, que Deus o tenha, botou no seu filho o nome do filósofo grego e disse: “É pra honrar o seu xarapa da Grécia: estude e mostre raça nesta terra de analfabetos”. Não deu outra: nosso Aristóteles, filho de Chico ferroviário, estudou pra doutor e hoje é um bacharel em direito, entendido tanto em assuntos jurídicos como em outras ciências.
Em um lugar pequeno, pobre como a Paraíba, onde o aluno sai da escola analfabeto funcional, o povo não tem sabença, não gosta de quem tem e fica com raiva dos eruditos. Pois o nosso Ari deu entrevista à repórter Karina Tenório da TV Cabo Branco para tirar algumas dúvidas dos consumidores sobre um assunto lá do Procon, que Ari agora responde pelo setor jurídico daquele órgão. Na entrevista, doutor Ari usou termos técnicos, falou bonito, como se diz. “Abroquelou-se” do seu direito de exprimir-se em alto nível, o que foi motivo de chacota e escárnio na imprensa. A internet bombou com comentários e pilhérias sobre a entrevista do moço. Botaram a fita com os comentários do doutor até no Youtube.
A maldade dessa gente é uma arte, como solfejou nosso poeta Noel Rosa. Um leitor do blog do Tião Lucena desconfia que o rapaz de Itabaiana é cria do professor Astromar, aquele erudito excêntrico da novela Roque Santeiro. Outro engraçadinho defecou: “Não entendí esmericamente o assunto albiquetado por este insópito e destrinquexudo advogado do Procon”. Um tal de Marcos Lelo desconfia que Ari andou fumando maconha vencida. Já o advogado e mestre do idioma Shalako analisa que “ficou sem sentido a frase principal. Abroquelar significa escudar, proteger, defender. Acho que não há nada demais o que o Senhor Aristóteles falou, porém se enganou quanto ao uso do verbete. A linguística vem combater o que mais se critica aqui: o uso pseudo-racional da língua culta. O que deveria estar em voga era o real destinatário da mensagem, qual seja, o consumidor final, o que não foi observado pelo emitente da mensagem, no caso o eminente assessor jurídico”.
Na verdade, essa raça é um bando de despeitados. Não têm sabença e ficam tirando onda com nosso jurista. O escritor baiano Ubaldo Ribeiro é quem tem razão, quando acunha: “Nós não gostamos da nossa língua, assassinamos os recursos que a língua portuguesa tem, achamos que é pernosticismo usar uma mesóclise de vez em quando”. O filólogo de porta de bar conhecido por Ameba foi taxativo: “Trata-se de tertúlia flácida que envolve bovinos em amplexos de Morfeu", ou seja, "conversa mole pra boi dormir". Mas não tem nada não. É fazendo merda que se aduba uma vida, conforme provérbio da lavra do filósofo Sonsinho.
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