O Intelectual
Gilberto Tainha. Pois é, com este nome de peixe, e metido a intelectual.
Escrevia prosa mal; poesia pior ainda. Estava sentado, papel velho na mesa, que ele lia atentamente. “Um célebre poeta polaco, descrevendo em magníficos versos uma floresta encantada do seu país, imaginou que as aves e animais ali nascidos, se, por acaso, longe se achavam, quando sentiam aproximar-se a hora da sua morte, voavam ou corriam e vinham tos expirar à sombra das árvores do bosque imenso onde tinham nascido.”
Ele leu com atenção e em voz alta. Não era grande a roda de amigos. Três, que bebericavam um saboroso uísque enquanto a conversa costumava se esticar até tarde da noite. Veio a patuscada.
- Escrevia muito bem, o Alencar.
- Quem?
- Está brincando, deixa disso estou lendo um trecho dele. Não sei de qual livro. É uma folha solta que encontrei.
- Mas isto nunca foi de José de Alencar, Tainha. É “O Torrão Natal”, de Joaquim Manuel de Macedo.
- Tem certeza? Aqui não está escrito o nome do autor.
- Certeza absoluta. Está no Rio do Quarto.
- Não conheço.
- Deveria conhecer. Um dos males de hoje é exatamente este. Prosadores que não conhecem nossos grandes antepassados, e poetas que não sabem quem foi Alberto de Oliveira, por exemplo.
- Ora, mas este eu conheço bem. Antônio Mariano Alberto de Oliveira, homenageado até por Bilac.
- Ora! Conhece o nome todo, de cor.
Neste momento, o barbudo que tocava um indolente barroco no piano, não se conteve.
- Tainha, porra! Explica isto. Sabe até que o homem foi homenageado por Bilac!
Tainha ficou calado. Não disse que Alberto de Oliveira era seu tio. Ninguém ali sabia do fato. Melhor assim. O idiota não havia herdado nada, absolutamente nada, da veia poética do parente famoso.
imagem: Alberto de Oliveira/Google
Gilberto Tainha. Pois é, com este nome de peixe, e metido a intelectual.
Escrevia prosa mal; poesia pior ainda. Estava sentado, papel velho na mesa, que ele lia atentamente. “Um célebre poeta polaco, descrevendo em magníficos versos uma floresta encantada do seu país, imaginou que as aves e animais ali nascidos, se, por acaso, longe se achavam, quando sentiam aproximar-se a hora da sua morte, voavam ou corriam e vinham tos expirar à sombra das árvores do bosque imenso onde tinham nascido.”
Ele leu com atenção e em voz alta. Não era grande a roda de amigos. Três, que bebericavam um saboroso uísque enquanto a conversa costumava se esticar até tarde da noite. Veio a patuscada.
- Escrevia muito bem, o Alencar.
- Quem?
- Está brincando, deixa disso estou lendo um trecho dele. Não sei de qual livro. É uma folha solta que encontrei.
- Mas isto nunca foi de José de Alencar, Tainha. É “O Torrão Natal”, de Joaquim Manuel de Macedo.
- Tem certeza? Aqui não está escrito o nome do autor.
- Certeza absoluta. Está no Rio do Quarto.
- Não conheço.
- Deveria conhecer. Um dos males de hoje é exatamente este. Prosadores que não conhecem nossos grandes antepassados, e poetas que não sabem quem foi Alberto de Oliveira, por exemplo.
- Ora, mas este eu conheço bem. Antônio Mariano Alberto de Oliveira, homenageado até por Bilac.
- Ora! Conhece o nome todo, de cor.
Neste momento, o barbudo que tocava um indolente barroco no piano, não se conteve.
- Tainha, porra! Explica isto. Sabe até que o homem foi homenageado por Bilac!
Tainha ficou calado. Não disse que Alberto de Oliveira era seu tio. Ninguém ali sabia do fato. Melhor assim. O idiota não havia herdado nada, absolutamente nada, da veia poética do parente famoso.
imagem: Alberto de Oliveira/Google