É DESUMANO!
Vento forte balançando os galhos no quintal. Minuano que sopra insistente, deixando um frio enregelante e incômodo. Ausência de sol. As nuvens carregadas escondem o astro-rei, trazendo a sensação de isolamento. Casas fechadas, ruas desertas. A impressão que se tem é que um iglu brotará do nada a qualquer instante e um esquimó baterá à nossa porta. A cara feia do tempo silencia até os passarinhos, encolhidos não sei onde, já que não têm ainda os ninhos tão comuns na primavera. Flores não há. Que flor suportaria a baixa temperatura?
O inverno recém chegou e chegou feio. Penso nos seres que vivem nas ruas, ao relento. São pessoas como eu, como nós. Com a diferença que não têm um lar, um abrigo, um cobertor, um aconchego para o corpo. Nem para a alma. Porque o frio mata. Mata o corpo desprotegido, mata a alma desconsolada. Na dependência da solidariedade alheia, esses seres vegetam a amargura do não ter.
O inverno só e bom para quem tem, para turista ver, para fotografar paisagens cobertas de geada e mostrar belas reportagens na televisão quando cai a neve. Aos que não tem, restam apenas dois caminhos: arrastar sua desventura ou morrer. É desumano!