RAINHA DA SAIA AMARELA

Aconteceu em uma festa em minha cidade, mais ou menos há trinta anos. Tal festa tinha o nome de festa do Reinado, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Por sinal, é uma festa de muita religiosidade e de grande respeito.

Faziam parte desta maravilhosa festa vários ternos, ou seja, vários grupos de pessoas, que eram denominados Ternos de Moçambique, Ternos de Vilão, Ternos do Reco-Reco.

Os Moçambiqueiros eram os dançadores do Terno de Moçambique, que colocavam algumas latinhas na perna, cantavam hinos de louvores a Nossa Senhora do Rosário, cantavam músicas compostas no momento de inspiração momentânea.

Da mesma forma, o Terno do Vilão. Composto com a maioria de crianças, que se enfeitavam de várias cores e dançavam com músicas em ritmo africano.

Os componentes do Terno do Reco-Reco também se vestiam com trajes de estilo africano. Cantavam músicas e hinos em honra a Nossa Senhora do Rosário, também compostas na hora e dançavam ao som dos tambores, instrumentos de corda, sanfona e um instrumento chamado Reco-Reco, feito com pedaços de bambu, picotados com serrote e faziam um belo som raspado, nome pelo qual foi dado como sendo Reco-Reco.

Todos os anos esta festa era muito bonita. Vinham várias pessoas, pessoas de outras cidades, da zona rural, dos arredores da cidade e se estendiam por dois dias.

No início da festa, eram erguidos mastros enfeitados e fincados no chão, para que fossem retirados no final da festa.

Após duas semanas dos mastros erguidos, era anunciada o final da festa, com apresentação de vários ternos e assim anunciavam o término da festa, sendo programada para o próximo ano.

Além dos dançarinos da festa, faziam parte dos ternos além do capitão, os Reis e Rainhas, que se vestiam de maneira clássica ao estilo romano. Várias eram as cores das roupas dos Reis e Rainhas. Cantavam, dançavam e o refrão era sempre a expressão: “ O lêlê, o lala... várias vezes era repetida esta expressão. Exemplificando, lembro-me da seguinte canção cantada pelo Capitão: “ Oi passa na ponte, passa devagar, pois, debaixo da ponte, a muamba ta lá.” Então os dançarinos respondiam : “ O lêlê, o lala... O lêlê, o lala... O lêlê, o lala...”. Era muito bonito, porque eu gosto de cultura e esta festa representa um avanço muito real na cultura.

Várias canções, muitos toques de caixas, sanfonas, pandeiros. Deveria ter, mais ou menos, uns vinte ternos e várias apresentações.

Em um dos ternos de moçambique, estava uma senhora vestida de rainha. Na cabeça, um coroa, uma blusa azul e uma saia longa amarela. Sobre o ombro, trazia um manto azul todo enfeitado de lindos símbolos ao estilo africano.

Nos lugares que o terno parava para cantar, sendo parte original da festa, a tal rainha atrasava. Era preciso chama-la, ora o pandeirista, ora o sanfoneiro, ora os dançarinos, o próprio capitão, os próprios reis e rainhas companheiros dela. Mesmo assim, ela ficava sempre para trás. Já estava ficando o próprio terno cansado de toda parada ter que chamá-la e até empurra-la para andar. Já estava ficando uma “tragédia”, expressão usada pelo capitão.

O capitão deste terno era um senhor de mais ou menos setenta anos. Muito justo, muito honesto, muito trabalhador e de grande conhecimento do mundo espiritual e da cultura afro-brasileira.

Em um momento, o terno do moçambique, em que a rainha de saia amarela estava, parou em frente da casa do Prefeito para cantar. Cantou um belo verso, os componentes começaram a andar, mas a rainha da saia amarela permanecia parada e o capitão, já irritado, juntamente com os componentes pelas paradas bruscas da rainha cantou assim:

- “ Oh sá rainha da saia amarela, vomo embora, sua put.... cadela” e o povo começando a rir e os componentes do termo repetiam várias vezes: ““ O lêlê, o lala... O lêlê, o lala... O lêlê, o lala...”

Foram várias gargalhadas das pessoas, que a Sra. Rainha da saia amarela, ficando toda vermelha, foi saindo de mansinho e até hoje nunca mais quis sair nos ternos.

Antes de escrever este texto procurei saber por ela, mas me disseram que ela mudou para outra cidade e nunca mais voltou aqui.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 26/06/2011
Código do texto: T3058567
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