Montanha russa maldita

É impressionante como nos tornamos covardes com o passar do tempo. Sempre adorei parques de diversões. Andava em todos os brinquedos: tobogãs, montanha russa, bicho da seda, tudo! Depois que completei meus trinta e cinco, virei uma verdadeira pateta! Não ando em mais nada. Uma simples escada rolante me assusta. Uma vergonha...

Só sei que, tempinho atrás, eu, muito xereta, pedi ao diretor para acompanhar os alunos numa excursão ao Hopi Hari. Chegamos ao parque logo pela manhã. Achei melhor não andar em grupo, afinal recusar convite de um adolescente não é nada auspicioso! Os brinquedos eram, na maioria, assustadores. A altura já me embrulhava o estômago. Os gritos amoleciam minhas pernas! O “melhorzinho” deles era o chapéu mexicano, que fui quatro vezes, já o resto, nem pensar!

Lá pelas duas horas da tarde encontrei uma colega que convenceu-me andar num brinquedo esquisitíssimo, que virava umas oito piruetas no ar, em velocidade máxima, antes de devolver as pessoas em terra firme. Fiquei na fila uma hora e quarenta e cinco minutos, até que a cancela foi liberada para nosso grupo. Cheguei a sentar no tal brinquedo, porém, antes de fechar a trava, sai correndo, sob a chuva de vaias dos adolescentes que ainda esperavam na fila quilométrica. Só escutava o coro: “Amarelou, amarelou...”

Não tive coragem, de jeito nenhum! E me senti péssima. Velha e covarde! Para anular a sensação de fracasso, fui comer um lanche. Carboidratos são melhores que terapia. Os resultados são imediatos, tanto por dentro, quanto por fora!

Não demorou muito, a esposa do meu chefe, que não deixa de ser minha chefe, apesar de minha amiga, pediu que eu a acompanhasse naquela mega, ultra, super, montanha russa. Tentei, de todas as maneiras, livrar-me dessa enrascada, mas a danada da Lu não desistia. Atarracou no meu braço e conduziu-me, as gargalhadas, para as escadas quilométricas do tal brinquedo assassino. Estranhei estarmos entrando pela saída, só depois descobri que estava com uma pulseirinha no braço pela qual tinha acesso imediato aos brinquedos. Nunca odiei tanto uma pulseira na vida! Não daria nem tempo de simular um enfarto, estávamos quase chegando. Comecei a suar frio, porém o medo de perder o emprego era pior! Pelo menos morreria empregada, uma forma digna de despedir-me da vida!

Sentei, submissa, naquele maldito carrinho. O troço começou a andar lentamente e meu coração a acelerar, homericamente! Só percebi que o negócio era sério quando o carrinho ficou quase na vertical. Achei que despencaria, de costas, montanha abaixo. Desesperada, agarrada na Lú, comecei clamar por Santo Expedito, o santo das causas impossíveis. Minha amiga não sabia se ria ou se chorava de dor, tamanha a força que eu apertava seu braço. De repente, o carrinho voltou ao normal, por pouco menos de dois seguuun.......doooosssssss......... senti minha alma desprender do corpo. Em pânico, comecei a gritar: “Santo Expeediiito... Santooo Expeediiitoooo... Santooo Expeditoooo...”

Para zoar, as pessoas sentadas nos carrinhos de trás, reforçaram o coro, repetindo o meu histérico pedido de socorro.

Depois de intermináveis minutos de agonia, o carrinho maldito parou. O problema é que a trava de todos os outros carrinhos abriram automaticamente, mas a do nosso, emperrou.

Comecei a pensar na hipótese de passar por aquela experiência horrível novamente e despenquei a gritar, quase chorando: “Eu não quero andar novamente, por favor abra essa trava, por favor moço...”

Graças a Deus, Santo Expedito deu uma mãozinha... atrasada, mas deu! A trava soltou. Desci daquele “treco” desgovernada. Mal conseguia firmar as pernas. Meu corpo chacoalhava mais que vara verde em ventania. Com a cabeça, eu dava seta para esquerda e com as pernas, eu virava para direita, involuntariamente.

Descer as escadas foi quase impossível. Se ao menos a Lu me ajudasse, mas mal conseguia parar em pé de tanto que ria... Aquela era a primeira vez que tinha molhado as calças depois do meu aniversário de cinco anos, quando ganhei um colchão de molas cor- de- rosa... que sensação horrível!

É... definitivamente, não tenho mais idade para emoções fortes. O máximo que consigo suportar é mesmo um chapeuzinho mexicano básico.

Montanha russa??? Nunca mais... nela, nem Santo Expedito vai atrás!!!!!