Tempo de Viver

 

A borboleta conta momentos e não meses, e tem tempo de sobra. (Rabin Dranath Tagora, Século XIX-XX)

 

Uma das coisas que mais eu me pergunto qual é sentimento dos componentes da Banda de Música despertando uma cidade quieta, com 16 graus marcando a temperatura, uma chuva fina caindo.  Eu só sei o que eu sinto. Meu coração dispara quando eu me lembro das palavras de Shakespeare : “Interroga teu peito; bate na porta do teu coração e pergunta-lhe o que sabe.”


Este coração que fala o que sente, mesmo com batidas descompassadas, sabe espalhar amor em momentos extremamente bons ou mesmo naqueles que machucam, quando nos questionamos sem jamais encontrar respostas. O que as pessoas pensam a nosso respeito não importa; o que verdadeiramente vale é o que nós somos de todos os lados de nosso ser. Se não podemos ajudar, fiquemos calados. Ou apenas deixemos nos levar pelo som da banda de música...


Santa Teresa é próspera, de gente muito bonita. Muitos de seus filhos tornaram-se elementos importantes para a sociedade. Outros fincaram seu coração e corpo no lugar e não o largam por nada. Aquele pensamento de “formar os filhos” ainda é muito forte nos papais e mamães de nossa pequena Santa Teresa. Hoje esta cidade abriga jovens de vários lugares do país, para estudar seus colibris e suas plantas exóticas. Como qualquer lugar, os sons se misturam. Funk, Sertanejo, batucada, cantorias italianas.


No começo, nós, os mais apegados às tradições, ficamos assustados. Vemos o Bar Elite, completamente indefeso -  lugar que acolhe os velhinhos italianos nos domingos de manhã para as cantorias de concertinas e tomar vinho tinto com agnolini - ser invadido por milhares de jovens misturando sons, vinhos e sonhos momentâneos., sem deixar espaço para as borboletas voarem um pouco.

A quietude e beleza da Igreja Matriz e da fé que adentra nossa alma quando entramos nela, logo em frente ao Bar, contrasta-se com a força do burburinho do lado de fora. É tempo de comemorar a chegada dos imigrantes, depois de mais de cem anos e seja lá o que o povo que invade a cidade quiser! Somos acolhedores, hospitaleiros e amamos receber gente de todos os lugares.


No começo, as festas eram apenas religiosas e um baile encerrava as comemorações. Depois, através do Circolo Trentino e os próprios moradores, inovaram, acrescentaram e descobriram o grande valor cultural do Centro Histórico, onde casarões abrigavam as famílias, inclusive a minha. O casarão de minha família encontra-se intacto. Entrar nele é reviver o passado e brindar o presente!

Não importa que trinta mil pessoas visitaram nossa terra. Com certeza, na segunda feira, as ruas de paralelepídedos lisos serão varridas, calçadas lavadas, o jardim será reconstruído (pois foi completamente destruído por pés que não pensam) e as crianças voltarão para as creches, os velhinhos sentirão a saudade aumentar mais um pouco, cada um voltará para sua vida, seu cantinho, seu trabalho.


As lágrimas de emoção ainda serão enxugadas, relembrando  o lento passar da Carretela, mostrando o que há de mais belo em nossa terra: nossos valores como pessoas dignas de admiração e respeito por todos que fazem parte de nosso mundo.

Ver tio Zelindo, de olhos azuis, à minha procura, deixando o desfile e dizendo “Sonia”, como se gritando para o passado que faz como o a borboleta: conta momentos especiais e vive intensamente o que lhe foi dado. Somente quem vivenciou o que falo aqui sabe o que está sendo registrado. E como eu sei!


 

 

Bom domingo!

26 de junho 2011, 5:45hs
Fotos ilustrativas do meu pensamento.