Visita ao sex shop

Sempre tive curiosidade, mas nunca coragem de entrar num sex shopp. Olho para aqueles letreiros provocantes e sinto exalar deles um misto de sensualidade e vulgaridade. Talvez uma ponta de preconceito ou, quem sabe, um início de conservadorismo medíocre que aparece junto com a idade.

Um dia, de susto, almoçando com algumas amigas, comentamos sobre uma loja dessas que havia inaugurado ali por perto. Foi minha a idéia maluca de dar uma espiadinha nas proibidas mercadorias. Apesar de todas sermos casadas há mais de doze anos, a vergonha de entrar, e principalmente de sair, do recinto, superava a necessidade de dar uma “esquentadinha” no relacionamento.

Por fim, decidimos encarar o desafio. Pagamos a conta do almoço e seguimos “pela estrada a fora”, com a maior cara de inocente, em busca dos segredos para domar nosso “lobo mau” de cada dia, que ultimamente nem beijinhos doces roubavam mais...

Enfim chegamos na porta daquela loja, nada discreta, pintada de vermelho sangue e preto sinistro. Nossa primeira reação foi passar reto, e foi exatamente o que fizemos. Depois de alguns passos e aquela pesquisada universal de 360 graus no território, zupt, uma corridinha até a entrada principal, não foi assim tão difícil! Subimos aquela escada, ressabiadas, amparadas pelo silêncio daquelas paredes nada convencionais. De repente, ao ultrapassarmos uma porta, fomos anunciadas por um macaquinho de pelúcia que assoviava e gritava compulsivamente: “ fiuuu...fiuuuu.... gostosas... gostosas...”

Quase chutei aquele mamífero, fazendo-o calar a boca!

Chegamos, enfim, no segundo andar e nos deparamos com o primeiro ambiente da loja: lingeries. A maioria delas era como fantasias. Tinha para todo gosto: fada, capeta, chef de cozinha, professora, enfermeira, garçonete, colegial, gata, onça, noiva, policial, odalisca, baiana, gari e até viúva negra. Calcinhas? De todos os modelos e tamanhos possíveis e imaginários. As frutíferas estavam em promoção. Havia frutas para tudo que é gosto: de pitanga a jaca, de limão a melancia. As comestíveis eram caríssimas! Fiquei pensando se haveria algum tonto que se prestaria ao papel de comer uma calcinha daquelas! Coisa mais bizarra! Imaginei uma mulher assistindo o cara devorar sua calcinha, enquanto fuma um cigarro para esperar a digestão do amante. Patético! Fora isso, as lingeries eram lindas e caríssimas! Um conjunto simples de tudo não saia por menos de cem Reais. Muito dinheiro para pouquíssimo tempo de uso, e as crianças precisando de meias e pijamas... sem chance! Aquela compra parecia-me egoísta demais... ou não?

Depois de explorarmos a ala de roupas íntimas, fomos conduzidas por uma atendente, mais ou menos, de sessenta anos, para a segunda ala. Quando entrei naquele ambiente, quase enfartei! Senti meu rosto esquentar feito fogo, como há muito tempo não acontecia. Minhas duas amigas quase se mataram de rir! Não tanto pelo cenário, mas pela minha cara de idiota. Eu, que era a mais agitadora da turma, estava estática. Rosa chiclete!

Enfeitando aquela parede vermelha, tinha bilau de tudo quanto é cor, forma e tamanho: de bilauzinho a mega-bilauzão. De palidozinho a ultra-negão, e a tal senhora explicando detalhes de cada peça, suas funções, certificados de garantia e tudo mais. Fiquei pensando se alguém teria a cara de pau de voltar naquela loja para devolver a mercadoria. Eu tentava não olhar, mas era quase impossível! Alguns deles eram hilários: tinham forma de pato, de batom, de bad boy... nossa, que coisa inacreditável! Minha vontade era pular pela janela. E as opções para os homens então? Uma “amiga” mais horrorosa que a outra! A “bichinha” já é feia com corpo, imagina desmembrada, ou seja, sem um contexto histórico! E ainda com vida própria? Parecia um alien com ataque de epilepsia!!! Deprimente...

As bonecas davam medo. Eu não dormiria com uma boneca daquelas no quarto, nem morta! “Zóios” arregalados, boca arreganhada e braços esticados... que horror!

O absurdo maior foi a cabrita inflável que estava em promoção. Tinha cílios postiços, laços nas orelhas e mini-saia plissada. Quem seria o demente que compraria uma cabrita daquelas? Era demais para mim...

Havia outros acessórios chamativos, como: algemas, chicotinhos, máscaras, mordaças, porém nenhum deles superava a tal cabrita! Sabe que pensando bem ela era bem mais simpática que as moçoilas infláveis!!!!

Fui a primeira sair daquela ala e explorar a terceira sala, que na minha opinião, foi a mais interessante. A variedade de perfumes, gel para massagem, batons com sensação quente e fria, aromatizantes de ambientes, incensos afrodisíacos e velas estilizadas era absurda. Nessa sala eu gastei uma grana violenta! Não pela quantidade de itens, mas pelo preço exorbitante de cada unidade. Só num perfume paguei cinquenta Reais. Sete Reais num incenso. Quinze Reais numa vela de coração. Fiquei sabendo, uma semana depois, que poderia comprar um perfume idêntico aquele por dezenove Reais e um incenso parecido por um Real, nas lojas de 1.99. Fazer o quê? Eu que não voltaria lá para discutir o preço abusivo cobrado pelas mercadorias. Do jeito que dou sorte, era bem capaz de “dar de cara” com uma reportagem do Jornal Nacional!

O difícil mesmo foi sair daquela loja com um embrulho, nada discreto, nas mãos e com o maldito macaco assobiando nas nossas costas.

Mas, por fim, valeu a pena porque, além de matar a minha curiosidade, dei um toque de romantismo e sensualidade ao meu casamento, com a magia dos incensos, a beleza das velas e o aroma do tal perfume afrodisíaco que, diga-se de passagem, causou-me espirros homéricos durante a noite inteira e mais vinte e sete Reais pela compra de um antialérgico!

Agora, difícil mesmo foi segurar o riso, na hora H, ao lembrar daquela simpática cabrita. Aquilo ninguém merece... ninguém!!!