Três espasmos na calada inquieta da noite

[Trasladados (e sim, o verbo é esse)

com pequenas alterações para um único texto.]

As árvores que me desculpem, mas papel e caneta nas caladas (mais insones) da noite são fundamentais.

Não, não acho o computador esse monstro todo. É bem verdade que o registro de muitos detalhes de todo um processo de trabalho mental (e mesmo operacional) se perde no ir e vir do que se mantenha e do que se apague, mas, imagine alimentar leituras e mais leituras das atuais redes sociais à velocidade (e ao som!) das máquinas de escrever!

Uma desgraça. E a desgraça de usar muito a internet à noite é que acabo buscando, muitas vezes, assistir ao próprio sonho como se ele fosse um filme a narrar, um livro a resenhar, um texto cujos links eu deva ir maximizando, retuitando (a quem, mesmo?) ou ocultando na regência de piruetas oníricas, um álbum de imagens a relacionar, um amontoado de ideias a organizar, de citações a referenciar e compartilhar posteriormente, pois que ao fim de todo este trabalho haveria a necessidade de um leitor ou grupo de leitores. E, no entanto, parece-me, é o sonhar e não o sonho o melhor de tudo, pois que o melhor dos sonhos – e é cada vez mais raro meu acesso a este biscoito fino -, ao acordarmos, traduz-se não por essa palavra, por aquela imagem, mas pela inconfundível e maravilhosa sensação de que dormimos o sono dos justos.

Curiosamente, quando me lembro desse tipo de sono me vejo recém-acordando em cama alheia, na acolhida de amigos. Acho que meu teclado é macio, e minha cama – ou melhor, eu mesmo – muito duro comigo. Não quero assumir que trato melhor meus dedos que meus sonhos: durma-se agora com essa!

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Obs.: Em diálogo com esse texto, não deixe de ler 'Malditos insights...', 'Facebook' e 'Pesadelo', deste mesmo autor.