Amor de perdição

Meus olhos deteram-se naqueles olhos quase brancos de tão azuis, ela me olhava de volta e parecia também que se enamorava de meus olhos pretos e inexpressivos; levantei da cadeira do lado de fora do samba que cantava: "quem nunca viu o samba amanhecer, vai no Bixiga pra ver...", fui à luta, disse seu nome, Carol, o mesmo daquela assassina que deixou meu coraçãozinho esquartejado, em tirinhas mortas.

Muito decidida, Carol me contou que era enfermeira na Congregação dos Homens que Amam a Humanidade, achei essa história interessante e solicitei ao métre que nos trouxesse doses extras de conhaque de uva. Me revelou que estava no bar em missão, procurava um homem saudável para transar e após o coito levar um dos seus rins para transplante à miseráveis que estão na fila.

Pus na balança os prós e contras e então decidi por satisfazê-la, ser uma oferta de sacrifício aos semelhantes, ser o cordeiro que se entrega voluntariamente por amor e pelo amor.

Que trepada! apesar de exangue ao acordar e do gelo da banheira que me paralisava os membros inferiores, nem esperei ler o famoso bilhetinho me recomendando que procurasse um médico, eu já sabia como proceder, Carol me ensinou antes da foda.

Achei uma troca justíssima: um rim por uma buceta como aquela, quão cheirosa, mágica, alucinógena!

Provei o verdadeiro amor, o orgasmo que os orientais chamam de místico.

Ela se foi e no espelho deixou escrito à batom "a noite foi ótima, obrigada", hoje estou feliz, a procuro pelos botecos de Sampa, seus olhos quase brancos de tão azuis para saber se tem interesse em outro órgão meu: um pulmão, uma córnea, um pedacinho do meu cérebro em troca de sua buceta por uma noite mais...

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 25/06/2011
Reeditado em 08/10/2019
Código do texto: T3056451
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