Sermão do Fogo

Há na vida do príncipe Gauthama, o Buda, um pronunciamento notável: o Sermão do Fogo.

Referindo-se aos sentidos, ele diz que tudo está em fogo. O fogo necessita de matéria combustível de onde puxa o necessário para a sua combustão. Quando não existe mais o que puxar, o fogo se apaga. É deste puxar do sermão do Fogo de Buda, que deriva o termo Nirvana que tanta gente usa sem saber o que realmente significa.

Nirvana é uma palavra composta por Nir = isenção de, e Vana= puxar. Sendo assim, desde o momento em que nos sentidos não houver mais o que puxar, haverá o Nirvana. E Buda continua o seu sermão enfatizando insistentemente outro termo: equanimidade, ou seja, isenção de emoções. Para ele, emoção é a manifestação dos sentidos.

Prosseguindo neste encadeamento, Buda discorre indicando que existem, em nosso corpo, as sedes dos sentidos, que ele chama “Nidanas”, e estas devem ao longo da vida ser acalmadas inteiramente.

Qual o sentimento que mais puxa? Ora, como você já deve ter intuído, é aquele chamado de “preservação da espécie”, ou seja, o desejo sexual. É um desejo bom, sublime até, desde que não conspurcado pelo simples desejo de “gozo”.

Buda prossegue ensinando no mais simples e claro sentido da realidade humana, que o corpo é templo do Espírito, entendido como centelha divina, por si só perfeito porque é parte de Deus, manchado apenas pela ganga (mistura) dos sentidos mal dirigidos, tão comumente submetidos às nossas contingências humanas, às vezes em grau tão rudimentar.

Cristão que sou, abraço o ensinamento do príncipe Gauthama, visto que o cristianismo ensina que o corpo é de fato sagrado, é um templo que devemos preservar, cuidar amorosamente.

Por ter esta percepção, vez por outra polemizo e continuo discordando daqueles que preconizam “sufocar” ou “matar” os sentidos pelos sofrimentos impostos ao corpo: fomes, torturas, cilícios, etc. Fico com com o axioma budista de primordial importância, a meu ver: “as paixões devem ser sublimadas, usadas como instrumento para o aprimoramento do ser humano, e jamais tentada a sua destruição pura e simplesmente”.

Equanimidade, diz Buda. Equanimidade, ou seja, serenidade, imparcialidade, ponderação, prudência, equidade no julgar e no agir.

Cada um tem que trilhar seu próprio caminho, e cada caminho leva a um estado de crescimento espiritual, próprio de cada um, de acordo com o plano de Deus para cada um. Buda vai usar os termos “Karma” e “Missão”, dois expoentes da vida de cada ser humano, sendo por isso que não há dois karmas ou duas missões iguais, e também porque o fiel da balança se chama “livre arbítrio”. Cada um é cada um, no entanto, em última análise, todos caminham em seu próprio caminho ao encontro do mesmo “Alvo”, que a todos aguarda, não olhando o caminho mas prestando atenção no caminhante!

Este “Alvo” para o qual caminhamos já está em nós e vive em nós. Um dia, acontecerá aquela fusão maravilhosa quando O alcançarmos... A fusão da gota d´água que mergulha e é absorvida pelo Oceano.