Remexendo a gaveta
Abri a gaveta e um papel amarelado pelo tempo, deslizou de minhas mãos.
Reconheci logo a letra e comecei a ler a pequena carta:
“Flor da minha vida. Tua luz e teu calor estão chegando aqui.
Não consigo deixar de pensar na minha fêmea.
Tua presença é constante. Aqui só chove e faz frio.
As ruas estão sempre congestionadas de carro e gente.
Não dá para aguentar a poluição.
Estou morrendo de vontade de voltar para o teu colo, minha casa e as corujas da jabuticabeira.
Até agora dormi todas as noites na casa da mamãe.
Ela faz chá com mel todas às noites.
Estou com ciúmes, e quando voltar vou te cobrir de beijos.”
Terminei a leitura e mergulhei no passado.
Passaram-se treze anos.
O homem que busquei por anos intermináveis, estava na cozinha.
Parei na soleira da porta e acariciei com os olhos seu trejeito jovial.
Cabelos revoltos, cor de ébano e tez queimada pelo sol.
Era a miragem de um príncipe do deserto...
Despertou o amor adormecido no meu coração.
Lá estava ele com o mesmo sorriso de menino, como se o ponteiro do tempo estivesse descansando. Beijei-o com ternura.
Reacendeu o fogo da paixão, e revivemos o encanto do nosso primeiro encontro...
O homem dos meus sonhos estava bem ao meu lado!
Era a predição do passado, que transcendia o presente extasiando minha alma.