Desconhecido.
Número.
Eu só ouvi chamar. E alguém dizer. "É desconhecido". Pronto. Foi o que bastou. É claro que bastaria. Talvez até para sempre. Como o meu amor. É claro. Eu soube que era ele. No mesmo segundo. E pude sentir a respiração presa e os olhos grandes perscrutando, para não ser surpreendido. Eu soube. Mas a primeira coisa em que pensei foi "por quê?". Ele também sabia, nós não nos ouviríamos. E mesmo assim eu escutei a voz retumbando bem lá dentro, no lugar de onde nunca saiu. Mas, sério, por quê? Será que já não foi o bastante? Será que não fiquei nua o suficiente? E tenho pensado, como quem injeta heroína, ou fuma crack - como um vício, como numa roda gigante sem um operador para fazê-la parar. Re-parar. Tenho precisado. Está tudo tão... quebrado. Acho que posso dizer assim. Por quê? Droga, só queria saber por quê. Porque, não, não entendo. Era o nosso código, era o afago dele em minha testa na hora do amor. Então, por quê? Por que não deixou tudo como estava? Claro, não que eu fosse esquecer, com o tempo. Mas o tempo viria, e eu conseguiria colocar curativos sobre o buraco bem no meio do meu peito - ninguém mais perceberia, mesmo que ele nunca estivesse fechado. (Porque é o mesmo que tentar fechar um buraco de bala com um band-aid.) Ninguém mais me tocaria, e nem seria preciso. Porque ele tocou a minha alma, e levou tudo. Sim, ficou tudo lá - os sonhos, os dons, o "eu te amo". Ficou. Por quê? Eu fico lembrando sem parar. O celular tocando, o número desconhecido. E eu sabendo quem era. Mas não sabia mais. Ainda agora, não sei. Desconhecido. Foi o que ele se tornou. E, mesmo assim, eu ainda o conheço melhor do que ninguém. Eu só queria entender.
Número.
Desconhecido.
Por quê?
5/5/2011 - madrugada.