PARA UM OUTRO MUNDO OLHAR
Para Outro Mundo Olhar
Certo dia, caminhando pelas ruas, sem destino, um homem de aparência duvidosa observava tudo a sua volta como se tivesse algo a questionar. Parecia uma batalha travada consigo mesmo onde o principal lema era justamente a idéia de tornar lúcida aquela venda que o angustiava tirando-lhe a visão. Não sei por certo, mas aquele moço parecia carregar sobre seus lombos um amontoado de questões sobre a vida, o sentido dela, ou talvez questionara a importância de ainda se manter preso naquele obsoleto ciclo vital.
Supunha, então, no silêncio daquele ser, que algo gritava por dentro, poderia ser um descontentamento com qualquer coisa, com tudo, ou apenas um desfrutar de uma grandiosa vitoria que aprecia em seu rosto como algo a temer, a deixar um rastro para baixo naquele olhar cinzento... Quis ariscar alguns questionamentos no papel estonteante daquele senhor.
...
- ”como são belos os monumentos que criamos! A perfeição é monstruosa que traz a sensação de ter sido ornamentada pela mão do todo poderoso. É, podemos fazer tantas maravilhas; transformar imaginário em real; talvez feio em belo; mas porque o homem em sua suma inteligência não consegue fazer maravilhas pra quem dorme com fome e acorda sem perspectiva de alimentar-se por um período grande de tempo? E a idéia de liberdade de expressão, de ser o que quiser e fazer tudo que lhe interessar continua tão imaginário; ainda não foi tornado real? O que proporciona o homem torna-se tão feio quando golpeia os cofres públicos sobre a inocência de votos encabrestados? E agora? Onde está o poder benigno do ser humano? Pode as mesmas mãos que trazem o progresso cometer tantos repúdios?“
É, o que residia naquele rosto não era nada mais do que um exército de perguntas sem respostas que angustiava. E o pior ou melhor não sei, foi que jamais esqueci aquele olhar.
O que aconteceu ali, a partir daquelas observações não sei ao certo. Passei também a olhar o mundo com aquele mesmo parecer daquele desconhecido que sem dizer nenhuma palavra teve a propriedade de desencadear em mim um ser certamente como aquele que vi, onde a vida não passava de um simplório e monótono cerco de acontecimentos fúteis e banais pelo qual só aqueles que tinham o poder de observar, de ler os acontecimentos e tudo quanto passa à sua volta eram capazes de entender.
Desejei ali voltar ao meu belo mundo inocente.
Jamerson F. Duque