O SOM NOSSO DE CADA DIA

O SOM NOSSO DE CADA DIA

"O povo canta, o povo dança...

(...) o Frevo e o Maracatu" !

DOMINGUINHOS DO ACORDEON

Sem computador em casa, uso Lanhouses cotidianamente e hora e meia navegando é tudo quanto posso pagar a cada tarde. Assim sendo, só me debruço sobre assuntos que me interessem realmente e, para ser franco, não é o caso do tal de tecnobrega.

É difícil entender como "músicas" do tipo "funk" carioca e o "rap" paulista possam fazer sucesso, a não ser admitindo que o gosto (de parte) do povo -- e dos jovens, diga-se de passagem -- mudou muito... e mudou para pior. As moçoilas que "torciam o nariz" para as cançonetas rebeldes do RBD, hoje arrancam os cabelos por um tal de Justin Bieber, fraquíssimo em têrmos musicais.

Entrei no Pará pela "porta dos fundos", em dezembro de 1983... num lugarejo sem luz elétrica, casas próximas, movimento, nada! Mas havia lá a rabeca do "seu Botão" e a flauta (de tubo de PVC0 do jovem "Ramiscléin". Adiante, eu conheceria o carimbó "de pau e corda", a dança de quadrilhas juninas como nunca vira antes, sanfoneiros, tocadores de violão e gente humilde com música no sangue, todos amadores, todos "tocando de orelhada", como um autosuficiente "técnico" cultural do CENTUR-PA se referiu às minhas "gaitadas" despretenciosas.

No "mato amazônico" por 2 anos e meio, eu ouvia o rádio de pilha o tempo todo, faixas AM somente, o FM não chegava até aquelas bandas. As Rádios CLUBE e a MARAJOARA eram as prediletas, ambas com programas e música bem popular, produzida realmente pelo povo e divulgada por famosos radialistas como Amauri Silveira e Everaldo Lobato.

Estarei afirmando que Caetano e Gil não são povo, que povo é um miserável qualquer, do tipo "Mike do Mosqueiro"?! Não, mas a música popular de ambos tem influências eruditas -- refiro-me a conhecimento acadêmico, não a estilos musicais -- que a retiram do chão comum aos demais compositores (baianos ou nordestinos), sem querer citar ninguém em particular.

Essa "volta" toda é apenas para chegar no Brega -- que ouvi pelas Rádios paraenses por quase 10 anos -- e nessa "vertente eletropunk" que seria (ou é) o tal Tecnobrega. O Brega tem suas "raízes" musicais na influência que os diversos artistas da Jovem Guarda impuzeram ao país inteiro. Com ritmo/compasso apoiado "numa valsa 3/4", com o jeito de cantar "emprestado" do Bolero, o Brega tem muito pouco / quase nada de Cumbias, Salsas, Merengues e ritmos mexicanos ou caribenhos. Quem se "apossou" deles foi Beto Barbosa, para lançar país afora sua bem sucedida Lambada. (Não é a toa que o Faustão declarou que foi êle o artista que mais frequentou o palco de seu programa.)

Alípio Martins -- esse "Manhoso" ao tucupi! -- foi um fenômeno regiional, quase nãi saiu do Pará. Mas eu já ouvia Brega (e sem saber!) no Morro carioca onde nasci, na voz e obra belíssimas de EVALDO BRAGA (em 1974?), merecidamente o Rei do Brega. Para mim, o simpaticíssimo (e profissional) Reginaldo Rossi tem os 2 pés no reino do Bolero, o que não sucede com o estilo Brega tradicional.

Não gasto caneta e papel -- sou "das antigas"... esse texto foi "rabiscado" dessa maneira -- com esse tal de Tecnobrega, tecnomelody ou como queiram chamar os que o "inventaram". É uma "colcha de retalhos" com pitadas de rap e funk nacionais -- e estes "chuparam" suas obras dos Grupos e rappers americanos -- além das influências que repentistas e cantadores (de Literatura de Cordel) tiveram indiretamente sobre os produtores e compositores dessa "novidade".

Dizem as regras do ECAD que plágio é a reprodução "de mais de 8 compassos de obra alheia" em sua própria composição. Se fosse verdade, muita coisa do Brega estaria interditada... e quase tudo o que se produz tanto no Tecnobrega quanto no estilo "melody". Isso, sem falar em direitos autorais PARA VERSÃO de "hits" estrangeiros. Daí, a vaca vai pro brejo mesmo!

O Tecnobrega "herdou" do antecessor o seu pior defeito: a cópia descarada do sucesso alheio! Se alguém falava em feiticeira e a música "estourava", lá vinha na esteira "a volta da Feiticeira", feiticeira isso, feiticeira aquilo. Basta mudar o tema, que ora era "papudinho", ora "corno", "boiola" e um monte de outras bobagens.

Agora temos que suportar no Tecnobrega os "treme treme", "serra serra", "vou dar meu coelhinho", vai entrar na madeira" e um "caminhão" de letras chulas de envergonhar poeta mirim, tudo apenas para sustentar POR HORAS um ritmo eletrônico calcado no Kraftwerk e que, segundo meu irmão gêmeo, se "originou" lá atrás, numa versão brega do famoso megahit "Ziggy Stardust from Mars", de David Bowie.

Os modismos passam e dos CDs insossos das Gravadoras gananciosas -- com o último sucesso "universitário" de mais um "estilo" -- não fica nada, nem lembrança. O Brasil resiste a "éguinhas pocotós", "funk das cachorras", "rebolations" e a "forróleiragem" que assola o país, com suas "micaretas" e "carnafolias". Um desses "psicólogos de fim de feira" que pontificam nas ondas da WEB declara que só vende discos cantor bonito. Fosse verdade por inteiro, tanto rap & funk quanto o tecnobrega nem existiriam... beleza não é o forte de nenhum dos seus maiores artistas. E vai além: afirma que Caetano não é vaiado nem quando canta Brega ou, pior, a música "deixa de ser brega (no sentido de ruim)" na voz de Caetano.

Não é bem assim..."monsieur Velô" já cometeu discos lamentáveis, sua empatia (e fama) tolhem/calam os mais abusados, mas ouvi falar que até W. Simonal, C. Buarque, Elis Regina e Tom Jobim foram vaiados. A plebe ignara não poupou nem o "gentleman do Samba" Paulinho da Viola, em véspera de Ano Novo na praia de Copacabana, alguns anos atrás.

Música popular não vende quando é feita para "durar algumas semanas", tão comercial que enjoa depois de 4 ou 5 audições. "Meia-lua inteira, sopapo na cara do fraco... está cada vez mais down o high society"! Há excessões, é claro -- madame Meneghel é uma delas, com seus 8 ou 10 XSPB vendendo milhões de cópias -- ou nem há mais, a partir da Internet transformando garotos imberbes e velhotas solteironas em astros mundiais, em menos de 1 mês.

"Este papo meu está qualquer coisa... prá lá de Marraquesh", contudo o povo que "sente a cruz que carrega bastante pesada" -- obrigado, Evaldo Braga! -- sempre irá prestigiar o Folclore e toda música vinda das tradições de seus antepassados. Bem o disse, com outras palavras, o escritor Jorge Amado: "o povo canta seus cantos, dança suas danças... jamais vencido!"

Fecho este assunto com um palpite: TUDO o que aí está, em têrmos musicais, surgiu de uma única fonte, LUÍS CALDAS! A junção de sua música, mesmo comercial, com o rufar dos tambores dos grupos Alaketo e Olodum (homenageando "Tutankamon") deu origem à "dança da rodinha", das garrafas, das bundinhas e bundonas, Tchans e tudo o mais que usam sem respeito algum trechos dos ritos sagrados do Candomblé e "dançam" de costas para o povo... tardia vergonha, talvez!

"NATO" AZEVEDO