Carta a Deus

AQUIDAUANA-MS, 18 DE MARÇO DE 2011

Destinatário: Sabiá Amarelo

Endereço: Laranjeira da esquerda – nº 05 – Bosque do Rio

Caro Sabiá,

Quero que você leve essa carta para Deus. Voe o mais alto que você puder!

Eu sou uma árvore em uma floresta, um grande e velho jequitibá. Estou desempregado porque as pessoas estão desmatando e poluindo as matas.

As pessoas estão acabando com o mundo. Elas matam os animais, poluem as águas matando, assim, os peixes e o ar, pondo fogo nos campos e florestas.

Vá, sabiá! Suba o mais alto que conseguir até alcançar o Papai do Céu. Faça isso por mim, que não posso tirar meus pés do chão. Leve o meu pedido a Ele. Diga-lhe que abençoe a minha vida e me livre das mãos do homem. Caso contrário, sabiá, logo, logo eles irão me cortar.

O desmatamento está acelerado e já está chegando aqui. Se você não se apressar o homens vão te matar também. E aí, como é que iremos conversar com nossa mãe natureza? E eu com as minhas outras árvores, como passarei minhas experiências? E você, em que galhos vai brincar ou fazer o seu ninho? Onde vai se reunir com seus colegas, as senhoras pombas? Ou discutir moradias com os joões-de-barro?

Também penso nas outras árvores. Como as minhas amiguinhas irão dar seus frutos? Parece que estou vendo o velho Aroeira em seus dias de agonia. Sua esposa sombreando seus filhinhos que tinham acabado de germinar... e, de repente, surgiu o barulho assustador. Eram as máquinas e as motosserras que vinham derrubando tudo, trazidas pelo homem. Foi só desespero naquela família. Nem as crianças escaparam. Foram pisoteadas quando cortaram os seus pais para virarem galpão de alguma fazenda. Que tristeza me dá só de lembrar! Foi uma covardia, sabiá! Precisava ver...

Só sei que todos morrerão se você, sabiá, não nos ajudar. Os cedros, os espinheiros, os carvalhos, inclusive a mais bela das árvores do cerrado, o ipê, morrerão. Virarão móveis, madeira ou cinzas.

Lembra o que aconteceu com o bosque lá do outro lado do córrego? Foi quase no Natal. Vimos um clarão se levantar na boca da noite e em alguns segundos as labaredas subiram ao céu, lambendo e consumindo tudo. Que tragédia! Acho que foi naqueles dias que você se mudou para cá, não é sabiá? Era lá que você morava antes, não era?

Os homens não têm piedade. Não veem que nos cortando, nos queimando, estão maltratando a eles próprios. Somos nós que purificamos o ar que eles precisam para sobreviver.

A fumaça de nossos troncos e folhas queimados espalha-se pelo céu, penetra suas narinas e aloja-se em seus pulmões causando tosses, alergias e outras doenças. Se a fumaça for muito intensa, os asfixia e os mata.

Também, se nós não existirmos mais para liberar o oxigênio, o mundo vai ficar desabitado.

Se nós pudéssemos andar, correríamos do perigo que é o homem e assim não morreríamos. Parece que estou vendo o velho Aroeira... De novo! Não dá pra esquecer aquilo!

Dizem que o homem é um ser evoluído, mas comete erros grosseiros que podem trazer-lhes a extinção da espécie.

Então, por favor, vá sabiá! Porque você tem um longo caminho pela frente!

Um abraço do amigo

Jequitibá

Bosque Central – Rua das Orquídeas – 33

Cerrado – MS

Autor: Felipe Alves dos Santos

Escola Municipal Franklin Cassiano – Aquidauana-MS

6º Ano – Ensino Fundamental

Idade: 10 anos

Professor/orientador: Lurdes Batista Monteiro

Lurdes Monteiro
Enviado por Lurdes Monteiro em 22/06/2011
Código do texto: T3050433