CARTA A UM LADRÃO (Luc Ramos)
Senhor Ladrão. Esse termo que eu estou usando foi criado por você mesmo, para que não seja declinado o seu verdadeiro nome, pois, no Presídio aonde vossa senhoria esta presa, pode ter um inimigo que o possa reconhecer.
E você bem sabe, nas unidades prisionais não tem “coelhos” como vocês mesmo denominam as suas vitimas.
Lá existem “cobras criadas”, gente da sua mesma laia, e sabe como é, né? Lá, o buraco é mais embaixo. Olho por olho!
Conforme a orientação da entidade chamada de Direitos Humanos, que o adora e tratam com esmero e religiosidade esse modo de nos dirigir a você não deveria ser usado.
Mas, com já disse, é para o seu bem, podemos continuar assim chamando-o, sem ferir a sua dignidade.
Durante vinte e tantos anos de atividade no Sistema Prisional, tenho acompanhado suas “conquistas” quanto à preservação de seus direitos, pois os cidadãos, e especialmente os Agentes Penitenciários e Policiais estão atrelados as suas vitórias, ou seja, quanto mais direito você adquire, maior é a obrigação em lhe dar segurança e lhe encaminhar para um julgamento justo, apesar de na maioria das vezes você não dar esse direito as suas vitimas.
Todavia não cabe a eu contrariar a lei, pois aprendi nessas duas décadas que trabalhei no extinto Carandiru que, o Direito Penal é a ciência que protege o criminoso, assim como o Direito do Trabalho protege o trabalhador, e assim por diante.
Questiono que hoje em dia você tem mais atenção do que muitos cidadãos e policiais. Antigamente você se escondia quando avistava um carro da polícia; hoje, você atira, porque sabe que numa troca de tiros o policial sempre será irresponsável se revidar. Não existe bala perdida, pois a mesma sempre é encontrada na arma de um policial ou pelo menos a arma dele é a primeira a ser suspeita. Sei que você é um pobre coitado. Quando encarcerado, reclama que não possuímos (a sociedade de um modo geral) dependências dignas para você se ressocializar. Porém, quero que saiba que construímos mais penitenciárias do que escolas ou espaço social, ou seja, gastamos mais dinheiro para você voltar ao seio da sociedade de forma digna do que com a segurança pública para que a sociedade possa viver com dignidade. Quando você mantém um refém, são tantas suas exigências que deixam qualquer grevista envergonhado. Presença de advogados, imprensa, colete à prova de balas, parentes, até juízes e promotores você consegue que saiam de seus gabinetes para protegê-los. Mas se isso é seu direito, vamos respeitá-lo. Enfim, espero que seus direitos de marginal não se ampliem, pois nossa obrigação também aumentará. Precisamos nos proteger. Bem que gostaríamos de ter ao menos metade dos seus direitos. Às vezes até sentimos medo de sermos policiais. Dois colegas de vocês morreram, assim como dois de nossos policiais sucumbiram devido ao excesso de proteção aos seus direitos. Rogo para que o inquérito policial instaurado, o qual certamente será acompanhado por um membro do Ministério Público e outro da Ordem dos Advogados do Brasil, não seja encerrado com a conclusão de que houve execução, ou melhor, violação aos Direitos Humanos, afinal, vocês morreram em pleno exercício de seus direitos. O de roubar e matar com todos os aspectos que a atual Lei os protege.
By Luc Ramos