Menino-velho

Estava falando ainda pouco sobre nostalgia. Confesso que eu sou um pouco nostálgico; ás vezes me pego lembrando com gosto do Rio de Janeiro que vivi quandon era criança. Nesse momento me esqueço das situações precárias (da falta de água, da falta de luz e da violência que naquela época já era grande) e tudo fica muito bonito.

Não é só sobre o Rio "antigo" que me enamorei, mas pela roça também. E olha que não fui criado na roça! Tudo o que eu sei sobre o campo aprendi com o meu avô que foi peão no Espírito Santo. E ele me contava tudo tão apaixonadamente que me simpatizei com a roça também. Portanto, conheço algumas gírias, alguns truques e alguns lugares, mas nunca vivi realmente no "interior".

Fui criado boa parte da minha vida pelos meus avós e isso explica não só essa minha veia nostálgica, mas também meus gostos: musicalmente, ainda vivo no século XX, de preferência na segunda metade dele. Possuo uma certa aversão á filmes e histórias lançados recentemente. Não é aversão pelo novo, mas porque considero a qualidade do que se vêem produzindo ultimamente muito baixa - ficou tudo industrializado, comercializado. No entanto, recentemente, liguei meu radar e me antenei com o que considero "bom" por aí e encontrei bastante coisa. E tenho esperança que encontrarei muito mais.

O que me deixou mais surpreso, no entanto, não foi nem isso, mas descobrir também mais pessoas que tem o mesmo gosto. Encontrei muitos "meninos-velhos" e "meninas-velhas" por aí. Alguns pessoalmente, na convivência diária, outros pela internet. E muitos até me superam, ressuscitando coisas do arco da velha. Isso me fez sentir deslocado, como sempre, mas pelo menos não mais tão solitário. Solitário no sentido de não ter ninguém com quem me identifico mais. Agora posso falar de Jackson do Pandeiro e Oscarito com alguém da minha idade! Pois é, surpresas da vida...