O filho cuja mãe não é como as outras
O filho cuja mãe não é como as outras. Ela amou. Ela gerou. Ela maternamente proveu, mas não é como as outras.
Hoje, aos sete anos, ele quer saber: por que sua mãe não é como as outras? Como assim, não é como as outras? Ele não conhece a tênue diferença entre estar mãe e ser mãe.
Pedrinho está em idade escolar e logo no primeiro dia de aula:
-Dê um beijo na mamãe, filho.
-A senhora já vai?
-Sim, mas no final da tarde estarei aqui, meu querido. Boa aula!
-Obrigado, mamãe!
A mãe cumpre seu papel de mulher, mãe, profissional. Abre as abas de proteção a sua única prole, destina todos os seus dias e remuneração ao ente que dela depende. É mãe!
Os dias se sucederam na mais absoluta normalidade. Pedrinho vai à escola. É inteligente. Já aprendeu a ler, enquanto grande parte dos coleguinhas ainda não percorreu esse caminho para a aprendizagem das letras, dizia a professora.
Enquanto acompanha as atividades escolares, propostas para serem realizadas em casa, a mãe segura firme o coração que quer saltar pela boca cada momento de plena aprendizagem, associação e interpretação realizada pelo filho. Ele já sabe a diferença fonética entre “jacaré” e “jacare”, se diverte com a descoberta da diferença semântica entre “coco” e “cocô”. Pedrinho tem domínio da linguagem escrita, dentro do que esperado para sua idade. Deve ter puxado a tia, que é professora na área de linguagem, embora pouco tenha contribuído para o desenvolvimento do sobrinho.
Na linguagem matemática, Pedrinho não decepcionou a mãe, visto que aprendeu rapidamente a “ler” as horas; aprendeu a contar dinheiro e resolve probleminhas na eficiência de um bom entendedor.
Dentre todas as disciplinas estudadas, Pedrinho se encabulou com uma: História. Assunto privilegiado pelo currículo escolar é a história da vida de cada um. Todos possivelmente têm uma história interessante, intrigante, até, mas Pedrinho quis saber da sua. Por que sua mãe não é como as outras?
Os coleguinhas sempre riem e fazem piadas porque a mãe de Pedrinho tinha um jeito especial de andar. Com alguns centímetros a menos na perna esquerda, vítima de paralisia infantil, e sem as devidas flexões no joelho, ela ganha uma performace diferenciada no caminhar. Para uns, isso é normal, porém para crianças em idade escolar e em plena formação de sua identidade social, aquilo que destoa do comum torna-se curioso e elas precisam saber. Pedrinho quer saber por que, além de sua mãe, seu pai não é como os outros, aliás, por que não vivia com seu pai?
As pedagogias familiares, para explicar a Pedrinho como funcionam algumas coisas, são utilizadas na íntegra e ficava sempre a impressão de que ele compreendia. Ele compreendia, mas surgiam novas dúvidas. Por que ele vive diante de situações tão diferentes? Por que não tem tantos vídeos-games quanto gostaria?
A mãe de Pedrinho faz de sua rotina um privilégio ao filho, mas como criança ele sempre deseja aquilo que vê e pouco nota aquilo que tem. A diferente mãe se diferencia também neste quesito. Ela dedica-se a ele, faz por ele aquilo que muitas mães não fazem para os filhos. Ela é mãe! Ele é o filho cuja mãe é diferente!