ANTES PERDER UM MINUTO NA VIDA QUE A VIDA NUM MINUTO

Quando garoto aos seis, sete anos, eu, no “Grupo Escolar Tito Fulgêncio” da velha e boa Renascença, costumava ouvir as palestras do famoso Inspetor Pimentel, um guarda de trânsito muito popular de Belo Horizonte, a respeito de educação no trânsito.

O Inspetor Pimentel, impecavelmente fardado no seu uniforme de brim cáqui, túnica com botões negros e trabalhados, quépi branco, rosto claro e pele reluzente, bigodinho bem aparado, era um símbolo tanto no DETRAN como nas escolas que visitava a convite das diretorias, fazendo sua pregação, orientando e ensinando a molecada (e adultos também) sobre como se comportar nas ruas e avenidas da cidade.

“- Respeitem os sinais de trânsito, não atravessem a rua com o sinal vermelho ou amarelo, sempre no sinal verde. Prestem bastante atenção!...” – dizia ele aos compenetrados alunos dos cursos primários. E prosseguia na sua palestra educativa, empenhando-se naquele catecismo da meninada escolar, futuros cidadãos de bem, lutando para a formação do seu caráter social.

Recordo-me bem que, sempre nos finais das palestras, o Inspetor Pimentel fazia uma advertência à platéia, composta de estudantes, pais de alunos e adultos em geral:-

“- Lembrem-se, não atravessem a rua com o sinal fechado. Esperem o sinal verde, pois antes perder um minuto na vida do que a vida num minuto! ...” – e encerrava a sua fala sob as palmas estrondosas de todos os presentes.

Jamais esqueci desse conselho do Inspetor Pimentel e sempre respeitei os sinais de trânsito, tanto como motorista quanto na condição de pedestre, o que não me impediu de ver muitas cenas tristes ao longo das minhas andanças, causadas pela pressa e imprudência das pessoas, como a de hoje na parte da manhã, bem no centro da cidade.

Estava eu parado na confluência da Avenida Amazonas com as ruas Tamoios e São Paulo, aguardando a abertura do sinal de trânsito, junto a várias pessoas. O movimento de carros, de ônibus e motos era grande àquela hora e havia um frêmito no ar. Tanto os veículos como algumas pessoas afoitas estavam apressados e disputavam os espaços avidamente.

Notei uma senhora dos seus cinqüenta anos, cabelos grisalhos, à minha frente, a qual já descera do passeio e adiantara-se na pista de rolamento. Nervosa e agitada avançava e retrocedia ao mesmo tempo, pois o volume de carros era grande e não dava trégua. Pensei no Inspetor Pimentel, mas foi em vão, pois a mulher, de repente, resolveu não esperar mais e correu, tentando alcançar o outro lado da avenida, com o sinal ainda no vermelho. Não deu outra, foi colhida em cheio pela moto que vinha em disparada, sendo arremessada à distância e sendo também atingida por outros veículos.

Gritos de pavor do povaréu, freadas bruscas no asfalto, pequenas batidas dos carros que vinham mais atrás e o pânico logo se estabeleceu no meio daquela gente. As pessoas se acotovelavam para ver a mulher atropelada e eu então, que sempre lutei contra a curiosidade mórbida, fiz uma prece para a vítima e me afastei dali, buscando o ponto do meu ônibus para o regresso ao lar.

Já dentro do 8102, ali no “chiqueirinho” dos idosos, os pensamentos fervilhavam no meu cérebro e a imagem do Inspetor Pimentel com a sua mensagem proverbial não me saía da cabeça:-

“- Esperem o sinal verde, pois antes perder um minuto na vida do que a vida num minuto! ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 21/06/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 21/06/2011
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T3048788
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