Leitura - a história de uma paixão
Nasci filha caçula de uma família de dez irmãos em uma pequena fazenda no interior do estado de Mato Grosso, na época anterior à divisão do Estado.
Fui alfabetizada em Campo Grande, sem dificuldades. Mas o acesso aos livros era restrito aos didáticos. Quando aos doze anos de idade fui morar com parentes, no estado do Paraná, a minha relação com a leitura mudou. Já no primeiro dia percebi uma estante com vários livros (literários, enciclopédias, didáticos), os quais despertaram em mim extrema curiosidade. Transcorreram muitos dias até que eu, menina muito tímida, tivesse coragem de pedir à dona da casa autorização para ler algum livro. Permissão concedida e o início do mais puro encantamento! O primeiro deles foi com o autor Hector Mallot através da sua história intitulada “Sem Família”, seguido com o escritor Monteiro Lobato e as aventuras das personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Nessa época o meu primo, dono da casa em que eu morava, assinava a revista “O Cruzeiro” que trazia assuntos variados. Eu era sempre a segunda pessoa da casa a ler a revista, depois dele, é claro. Porém, se ele "bobeasse" essa ordem se invertia! E que agradável surpresa eu tive quando descobri que todos os números já adquiridos eram guardados no maleiro de um armário, justamente no quarto em que eu dormia! Às vezes, os adultos da casa precisavam chamar a minha atenção para o fato de eu estar lendo quando já era hora de dormir. Quantos mundos passei a conhecer então! Esse período era dos anos de 1967 a 1969. Preparei-me para a viagem à lua junto com os astronautas, e em julho de 1969 lá estava eu, aos quatorze anos, junto a Neil Armstrong dando “Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade!” Participei também dos nada científicos (creio eu), mas não menos famosos, concursos de misses, os quais tomavam páginas e páginas de todas as revistas do país, ainda na fase estadual. Quando era o miss Brasil e o miss Universo, então, o assunto era central!
Na escola aprendíamos a cantar os hinos Nacional, à Independência, à Bandeira, do Soldado e da Marinha, com muito ingenuidade e muito orgulho de um país que se preparava para o “milagre brasileiro”. Estava chegando a época do "Ame-o ou deixe-o".
Voltei, então, para a casa de meus pais e na escola tive algumas experiências de leitura por indicação de professores de Língua Portuguesa, que exigiram o trabalho com os clássicos da literatura. Foi então que conheci e me apaixonei pelo mundo de Machado de Assis, José de Alencar, Castro Alves, Bernardo Guimarães, Graciliano Ramos, Manuel A. de Almeida e Joaquim M. de Macedo.
Posteriormente, já na vida adulta, a leitura se constituiu para mim como uma das melhores opções de lazer. Dos gibis, revistas diversas, romances populares, poemas, histórias de guerras, aos clássicos da literatura, o que importava era ler. Se não tinha acesso a novos livros, relia Dom Casmurro, Senhora, O Guarani, Inocência, entre outros.
E a felicidade aumentou ao conhecer Camões, Drummond, Júlio Verne, Alexandre Dumas, Jonathan Swift, Herman Melville, Lewis Carroll, Augusto dos Anjos, Neruda, Guimarães Rosa, Mário Quintana, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Ray Bradbury, Stephen King e tantos outros que enfeitam a vida e fazem vibrar a alma!
E assim caminho pela vida afora. Vivendo e lendo. Lendo e vivendo o que leio e o que não leio. Lendo o que está escrito para todos e aquilo que o autor escreveu só para mim, pois algumas vezes só eu o entendo assim. Que delícia as entrelinhas! O implícito latente!
O resto? imagino... e sigo assim, "arrebanhando" adeptos para a minha paixão, que oferece sempre um mundo especial, fantástico, mutante, surpreendente, infinito...