O Andar de Maria
Maria anda pela rua em busca de uma antiga livraria.
Anda. Anda. Anda. Para.
Olha atentamente para o prédio a sua frente. A rua está vazia. Passam carros e pessoas, muitas pessoas, mas está vazia.
Esbarram em Maria e passam direto, como se ela fosse apenas um obstáculo a ser ultrapassado e por um erro o transeunte bate.
Maria continua olhando. Um sorriso triste aparece timidamente em seu rosto e some rapidamente quando vê o que aconteceu ao seu redor.
Os anos em casa e de trajetos feitos apenas dentro de automóveis não a vez perceber que o tempo não modificou apenas a elasticidade de sua pele, mas também alargou a ideia de moderno na mente alheia, fazendo com que desaparecessem coisas grandiosas como aquela livraria.
“Mas o que aconteceu com essas pessoas? Elas não se encontram mais, não param para admirar uma boa obra de arte? E os livros? Como compram?”
Essas dúvidas surgiam cada vez mais com um maior amargo na mente de Maria, ainda parada em frente ao prédio suntuoso, que agora tinha um letreiro luminoso mostrando as mais diversas promoções de eletrodomésticos.
A rua continua vazia para ela. Carros vazios passam ao seu redor com um insistente ruído chato de buzinas e pessoas, tão mecânicas quantos estes, passam a sua volta.
Maria anda. Anda. Anda. Para novamente e percebe o quanto perdeu em seus anos dento de casa.
Perdeu os últimos dias de boas conversas no café que tinha na esquina. As últimas sessões do cinema que ficava na esquina da frente, os últimos livros a serem vendidos no prédio que acabara de passar.
O sorriso nos lábios permanecia, com um luto reconhecível daqueles que lamentam a vida dos que agora contemplam a facilidade cultuada no templo da centralidade. É deste que o observador acompanha seu trajeto até onde a grande parede de vidro o deixa enxergar, sentado em sua mesa, comendo um sanduíche em mais um almoço solitário.