Guilhotina
Estou aqui, com ela, nos fundos de um shopping center; os dois sentados em silêncio, sabendo que não tem mais jeito da coisa ir pra frente e não fazendo nada pra romper de vez ou tentar continuar. Se eu desse alguma esparzida de esperança, ela ficaria comigo.
Mas não o faço.
Usando um termo popular e abjeto: eu não cago e nem saio da moita. Porque essa garota aqui é o mais próximo que eu poderia ter chegado daquela a quem idealizei em noites frias de quente solidão e se eu der um ponto final nisso posso vir a me arrepender de uma forma tão amarga e abstrata que não consigo definir com palavras. Mas, de alguma maneira, me sinto sufocado.
Ela não me cobra nada e é tão sossegada e mente aberta quanto eu, mas eu sinto que minha liberdade vai definhando a cada vez que ela se atrasa, a cada vez que ela passa um creme em/para cada parte do corpo; a cada vez que, como agora, ela passa essa porra melosa com gosto de morango nos lábios e fica lambuzando meu rosto com um monte de beijos desnecessários e de estalido irritante; da expressão mista de nojo, complacência, autocomiseração e luxúria quando enfio o pau em sua boca até seus olhos começarem a lacrimejar.
Ela é linda; tão linda que eu tenho quase certeza de que não poderei conseguir uma outra à altura nem daqui a cem anos.
Até quando vale a pena sentir as asas atadas a um ninho de beleza descomunal?
Conheço essa expressão dela.
Ela resolveu falar.
Hora de deitar a cabeça no cepo.
19/06/2011 - 16h10m
Rise Against - Savior