A MALDADE HUMANA NÃO SERÁ PERMANENTE
Abrimos um jornal, ligamos a televisão e tão rotineiras se tornaram as notícias ruins, que não nos assombram mais. Os maus atos passaram a ser lugar comum e a crueldade parece ser completamente natural. Rios de sangue escorrem diariamente pelas ruas, recém nascidos são abandonados em lixões, estupros se sucedem, o crak mata nossas crianças, a corrupção é esfregada na nossa cara, somos prisioneiros dentro de nossas casas. Parece que o mal estabeleceu seu reinado no mundo e a esperança se foi pelo ralo.
A maldade dos homens sempre foi motivo de preocupação de filósofos, cientistas, religiosos e estudiosos em geral. Vivemos num Plano onde a dualidade é uma característica. E, como seres duais, carregamos em nós os germes do bem e do mal. Somos dotados de instintos, racionalidade e emoções. Temos livre-arbítrio e dependendo de nossas escolhas um dos lados da balança pesa mais. Várias teorias foram formuladas tentando explicar a maldade, que parece acompanhar o homem desde os primórdios de seu surgimento como ser racional.
Pelo lado material, entre outros, a filósofa Susan Neiman em "O mal do pensamento moderno", diz que o terremoto de Lisboa, em 1755, derrubou a idéia dos males naturais como punição para os males morais. Segundo a autora, esse fato absolveu Deus e os pecados coletivos, e os terremotos passaram a ser vistos como desastres naturais. Deus não é mais agente punitivo e o mal passou a ser responsabilidade do homem. Hanna Arendt, filósofa judia, radicada nos Estados Unidos, em seu livro "Eichmann em Jerusalém", sobre o julgamento do carrasco nazista, diz que o mal pode espalhar-se pelo mundo, mas que suas raízes não estão profundamente instaladas no coração do homem e, por isso, podem ser arrancadas.
Pela visão espiritual, o mal é criação do próprio homem e tem existência transitória. Segundo Kardec, em "Obras Póstumas", “Deus não criou o mal; foi o homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre arbítrio.” Na mensagem “A lei de amor”, de Lázaro, presente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o autor afirma que, em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. Na fase inicial de sua jornada, simples e ignorante, o instinto é seu guia; desenvolvendo a inteligência ele se apega às sensações materiais; aliando inteligência e experiência de vida, os sentimentos substituem, gradativamente, as manifestações anímicas.
As duas visões parecem convergir para um mesmo ponto: Deus não pode ser responsabilizado pelos atos de seres dotados de inteligência e liberdade de ação. Se o mal está tão presente no nosso dia a dia, é sinal que os instintos e as sensações ainda convivem conosco.
Espíritos imersos no corpo físico, em busca do aprendizado, estamos sujeitos à atração da matéria, mas os sentimentos latentes na alma já dão mostras que o homem está em evolução. Vozes se levantam todos os dias contra as injustiças, pessoas se doam em prol dos necessitados, instituições abrigam os desfavorecidos e maltratados. E, de tijolo em tijolo, com certeza, construiremos a fortaleza que impedirá, definitivamente, a penetração do mal nesta casa chamada Terra.