CRONICANDO
Crônicas. Nesta semana dirijo-me aos leitores que, sempre ao amanhecer, esperam ansiosamente o jornal na busca de ações novas, sejam estas por parte de algum cidadão que se apresente com algum projeto inovador – ou rejuvenescido, da sociedade (de forma geral), dos governantes – e que nem sempre encontram.
Alguns leitores buscam na primeira página o resumo do conteúdo interno – e vão direto aos assuntos que lhes interessam; outros, lentamente, folheiam-no lendo título a título até a última página e só depois retomam ao que interessam; os que possuem mais tempo olham atentamente o título, buscam na ‘linha fina’ a ideia resumida da matéria, descem o olhar para a foto ilustrativa e, finalmente, degustam o texto. Mas também notei que muitos vão diretamente à parte, por assim dizer, mais deliciosa do jornal: a crônica. Mas, com toda certeza, há variações de ordem segundo o público que o lê.
O público mais adulto busca primeiramente as notícias – que por vezes são pesadas. Estes também se deliciam com a parte política, com o recado dos leitores, economia, sem esquecer a leitura do editorial, pois nele reside a vida do jornal – a linha mestra, por assim dizer. O público mais jovem já tem outra preocupação: buscam o caderno de variedades – aqui o Etc... – que sempre traz comentários de bandas, de artistas renomados; um texto variado (artigo ou crônica), resumos de novelas, cruzadinhas, horóscopo, histórias em quadrinhos, programação de cinema e TV, comentários de filmes, receitas culinárias e coluna social.
Mas muitos se prendem, após vários assuntos pesados – como notícias desastrosas e política (e atentem que a política é um assunto necessário a todos) – na leitura do artigo ou da crônica. A responsabilidade de quem faz este espaço é imensa: não adianta escrever qualquer coisa; necessita-se escrever assunto do momento – a crônica desempenha este papel (exceto quando se fala de crônica literária que muitos mestres nos deixaram e que nos deliciamos até hoje, como Stanislaw Ponte Preta). Ao cronista, como a qualquer cidadão que dedique parte do seu tempo a escrever, tem o dever de andar com uma cadernetinha de anotações no bolso – assim, não se perde uma oportunidade de anotar e, posteriormente, desenvolver o assunto.
No último dia 11 de junho saiu na Folha de S. Paulo uma excelente matéria sobre o cronista Rubem Braga. Nela há uma passagem que o escritor deixou escrito: “Há homens que são escritores e fazem livros que são verdadeiras casas, e ficam. Mas o cronista de jornal é como o cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai”. Ainda: “Não sou um homem de inventar coisas, mas de contá-las. Seria preciso talvez dar-lhes um sentido, mas não encontro nenhum. As coisas, em geral, não têm sentido algum”.
Falando, ainda, em Rubem Braga, na mesma matéria Danuza Leão faz um depoimento: “Rubem gostava de mulheres bonitas, muito bonitas, e se apaixonava por elas. A beleza para ele talvez fosse mais fundamental do que para Vinícius. Das feias, era apenas amigo”. E em crônica inédita – Terraço –, para entender o espírito de Braga: “(...) A verdade é que o jardim reflete um pouco a gente, o meu é desarrumado como eu. Sou um homem quieto, o que eu gosto é ficar num banco sentado, entre moitas, calado, anoitecendo devagar, meio triste, lembrando umas coisas, umas coisas que nem valia a pena lembrar.” – E como reflete!
Assim vejo-me o cronista que tento ser: no sossego de minha casa, no meu alpendre, entre as muitas plantas que cá estão florescendo – recheadas de verde: samambaias, dedinhos de moça, lírios, avencas, cactos, flor-de-maio, orquídeas, comigo-ninguém-pode, gérbera, africana, pata-de-elefante, kalanchoe, begônias, onze horas, rosas, violetas, jiboia, renda portuguesa, cabelo-de-nego – entre outras! Cadeiras preguiçosas convidam-me a sentar e sentir o ar (impuro) do final da tarde. Busco nas lembranças o ser calado que fui (hoje um pouco menos) e não consigo encontrar-me totalmente. Espero, um dia, não como o autor citado acima, mas pelo menos em parte alegrar os olhos de alguns que me lêem.
Publ. no Jornal "O LIBERAL REGIONAL", em 18/06/2011.
Publ. www.aracatubaeregiao.com.br - site pessoal!
Prof. Pedro César Alves