DO MEDO DA MORTE; DA PERCEPÇÃO DE NÃO SER

Tenho medo da morte, é certo, mas, a minha percepção de inexistir, de não ser, é tão poderosa que nem mesmo a dor real pela morte de seres queridos consegue vencê-la, a esta auto percepção da minha própria inexistência, do meu próprio não ser no presente mundo também tornado algo irreal, já que feito por mim à imagem e semelhança de como me sinto a mim no correr dos tempos de cada dia.

Não adianta arrumar os papéis, nem ir aos Bancos pagar as contas, nem lavar roupa, nem comer, nem acordar de manhã, nem outras tantas coisas que tais: a percepção da minha autoirrealidade é uma coisa orgânica, assim como orgânica é esta articulação de linguagem, que já confundiu vários psicanalistas, um e outro psiquiatra e antidepressivos, também.

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Ao olhar minha mãe lembro-me, todos os dias, de que preciso sentir, minimamente que seja, que existo, ainda que como um equilibrista a caminhar o tempo inteiro e sem olhar para baixo, sobre um fio delgadíssimo, do topo do arranha-céu ao topo do outro arranha-céu de si mesmo: afinal, minha mãe depende de mim para continuar a existir, enquanto o Destino nos der, a ambas, aval para isto: existir. Enquanto o Destino nos der aval para existir.

Na manhã de 19 de junho de 2011.