DE QUE VALE TUDO ISSO...

Semana passada ao ligar a TV vi cenas impressionantes causadas pela tsunami que atingiu o Japão. Pareciam cenas de um daqueles filmes catástrofes produzidos em Hollyood, ou ainda, ficção científica concebida pela mente privilegiada de um Spilberg.

Por que não me surpreendi com tudo aquilo? Indiferença diante de tamanho infortúnio? Frieza perante tanto sofrimento imposto p ela natureza a um povo, que em pouco mais de 60 anos conseguiu reconstruir um pais que teve duas de suas cidades destruídas por bombas atômicas e se transformar em uma das mais poderosas economias, atrás apenas dos Estados Unidos e da China, a quem invadiu, massacrou, e humilhou no século passado?

Errou quem supôs qualquer das duas premissas. Eu não me enquadro no rol das pessoas que viram o rosto e ignoram os sofrimentos, quer sejam de um homem, quer sejam de uma nação inteira. Eu não me surpreendi por que há muito tempo venho observando sinais de alerta emitidos pela natureza e simplesmente ignorados pelos homens e pelas nações.

Redução da camada de ozônio, aumento gradativo da temperatura do planeta e em conseqüência do nível dos oceanos; desmatamento acelerado, rios assoreados ou que estão agonizando, ou pior que já morreram; mortandade de animais e peixes e outros tantos sinais emitidos pela natureza que simplesmente teimamos em ignorar.

Não me insiro também na corrente daqueles que simploriamente acham que seja castigo divino e outras coisas que tais. Também não me alinho simples e sectariamente a teorias científicas oportunísticas ou catastróficas. Acredito sim, na soma de vários fatores, ajudados pela ação do homem na face do planeta, que contribui para desencadear cataclismos como o acontecido nas Filipinas e mais recentemente no Japão.

Acho ótimo possuir um computador de última geração, um moderníssimo aparelho celular com GPS, câmera de alta definição, touchscreen, wi fi e outras bossas que nos dão status. Quem não sonha pilotar um automóvel com desenho futurista, piloto automático, air bag, faróis Led,câmbio automático, som digital? Quase todos que podem, seguramente sonham um dia ter esses objetos tão desejados, que satisfazem nossas necessidades e inflam nossos egos.

Essa busca desenfreada por bem estar, satisfação pessoal, escalada social, inevitavelmente desemboca também numa corrida insana em busca do sucesso que nos faz esquecer pequenas, mais importantes regras de convívio social e de respeito ao nosso planeta Terra. A cada dia, nos, seres humanos, contribuímos de alguma maneira para encurtar os dias de vida de nosso planeta e para exaurir os seus recursos naturais explorando-os de maneira irresponsável, politicamente incorreta, movidos tão somente pela ganância.

Dia desses algum dos muitos amigos virtuais com quem me comunico, mandou uma entrevista supostamente concedida por um tuareg1 que consegiu a custo de muito empenho, uma bolsa de estudos e hoje é aluno em uma universidade francesa. Confrontado pelo (a) entrevistador (a), sobre as diferenças existentes entre a sua vida no deserto de Saara e a da capital da França, ele resumiu em apenas uma frase: “Aqui vocês tem o relógio, lá no deserto nos temos o tempo”, e disse também: ”O tempo é como um rio, a água que passa não retorna mais”.

Talvez possa soar incoerente e fora do contexto a referencia à entrevista do tuareg, até porque ela não se resumiu apenas a essas duas frases, no seu decorrer, ele (o tuareg) na sua simplicidade – hoje nem tão simples assim- prega reiteradamente o respeito à natureza. Certamente muitos argumentarão, que ele assim procede pela convivência secular do seu povo com a aspereza do deserto e a crônica escassez de recursos a que está habituado. Por que nos, que vivemos numa terra outrora esplêndida em “que se plantando tudo dava” devemos nos preocuparmos com detalhes derrubar algumas árvores, desviar curós de rios,aterrar manguezais e outras coisinhas miúdas e tão pouco relevantes?

Ai é que mora o perigo! Devemos sim, nos preocupar hoje com os nossos recursos naturais, para que no futuro eles não se acabem. A água doce é um bom exemplo. O consumo mundial de água subiu cerca de seis vezes nas últimas cinco décadas, durante as quais nos humanos aprendemos a lavrar a terra a criar animais, a derrubar árvores e represar os rios. Descobrimos o petróleo e o gás natural e os extraímos sem piedade. Consumo excessivo, poluição e crescimento demográfico na Terra ameaçam esgotar as reservas de água doce do planeta. De toda a água existente do planeta, apenas 3% é doce, e a maior parte desse percentual está em geleiras, que estão derretendo. Ainda assim, o restante se bem usado, pode abastecer a natureza e o homem. Mas quem disse que nos já aprendemos a fazer bom uso de nossa água doce e dos outros recursos naturais ainda disponíveis no planeta Terra? Oxalá venhamos a aprender tempestivamente – e que Oxalá também nos proteja e nos ensine! Porque, se não... de que vale tudo isso de que ainda dispomos, se não estaremos aqui?

1 Os tuaregues são um grupo étnico da região do Sahara, da Argélia e do norte do Mali, do Níger e do Chade. Falam Línguas berberes e preservaram uma escrita peculiar, o tifinar. Tuareg significa “abandonado pelos deuses”.