Um jeito ou outro de ser homem

Com o propósito de ser homem, uns engendram trejeitos másculos, normalmente copiados de outros, que involuntariamente lhes servem de modelos. Além disso, forjam um jeito de ser mais ríspido e / ou lacônico. Impõem-se à prática de esportes, adota gostos propagados pela sociedade como típicos e, como a propaganda é a alma do negócio, lançam-se a azarar todos os rabos de saia das circunvizinhanças, desde que repercutam nos convívios, de modo que isto lhe consolide a fama. Ser o homem mais próximo do arquétipo do imaginário feminino incutido nos primórdios machistas é o objetivo a ser perseguido. Tem que inspirar segurança, uma confiança estigmatizada que pode incluir pequenas traições amorosas desde que deixem saídas honrosas às parceiras institucionalmente compreensivas sem, deixar de cumprir itens dos invisíveis acordos tácitos.

Não resta dúvida que é uma tarefa árdua, à qual ainda se adiciona outros itens, que o distingam da legião perseguidora dos mesmos objetivos sem perder de vista a uniformização de hábitos reconhecidamente aceitos. Qualquer originalidade mais ousada poderá condená-lo ao ostracismo aonde se recolhe a pequena minoria exótica.

Com o tempo, os guetos de “originais” foram se formando, onde os pensamentos são mais livres e as atitudes menos previsíveis. Onde a coragem é apenas imprudência. Onde a promiscuidade pura e simples é somente índole. Onde as alternativas insólitas não são necessariamente execráveis. Feliz foi o Lulu que tinha talento para “ir tocar guitarra na TV” ao invés de “jogar bola com os garotos da escola”.

Esquece-se essa trupe que não fossem as iniciativas originais e não teríamos o leque de inventos e idéias que, aos poucos, puderam ser absorvidas pelo consumo de massas. Não fossem muitos desses originais e não teríamos a pluralidade de costumes e alternativas que, vistas no início, seriam consideradas, no mínimo, ridículas.

A inteligência que é requerida ao heterodoxo é dispensada ao ortodoxo, ainda que os adeptos estes últimos pereçam repetitivos no conformista mar da estagnação.

Abro exceção, evidentemente, para os surpreendentemente discretos que fazem o que querem independente do grupo ao qual estejam inseridos. Afinal ser homem é principalmente não procurar um conceito para segui-lo, mas criá-lo à sua imagem, tendo o respeito, a generosidade, o desinteresse, a ambição e a coragem de mudar para melhor a si e a quem possa influir.