A aritmética das letras

Como se mede um escritor? Com a fita métrica de Protágoras? Não, Protágoras não tinha tanta alma para tal intento. Talvez os velhos poetas gregos utilizariam vários mitos e lendas para descrever um novo Homero, apenas pela necessidade de criar deuses. Criar deuses era o passatempo dos gregos. Uma necessidade humana atemporal é a criação de deuses. Não conseguimos escutar os apelos estéricos de Yaveh. "Pobre" Yaveh, com sua mania de contextualização só fez gerar concorrências.

Mas como se mede um escritor? Um amigo disse que deveríamos enumerar sua obra. O número de sua obra é o tamanho do escritor. Bem percebe-se que esta é a opinião de um matemático, pois utiliza a velha aritmética para calcular virtudes.

Uma amiga me disse para calcularmos a quantidade de best-sellers deste escritor. As vezes meus amigos capitalistas me perturbam. Nem sempre a eficiência do capitalismo resolve as dores da alma. Dores da alma. Criar deuses. Não perdemos esta mania.

Minha filha respondeu que deveríamos contar quantas belas histórias este escritor já contou. Belas histórias. Ah, a sabedoria das crianças! Ah, a paixão ainda pueril dos lírios do campo! Lembro ainda hoje do meu "Pequeno livro de histórias bíblicas".

Sim, a pequena Bruna acertou. A quantidade de belas histórias contadas por um escritor é sua medida.

O escritor se mede pela quantidade de vezes que arrancou lágrimas de seus leitores. O escritor se mede pela quantidade de vezes que foi usado como referência. O escritor se mede pela quantidade de vezes que seus leitores sentiram vontade de reler. Pela quantidade de vezes que contaram suas histórias para outras pessoas. Pela quantidade de prosélitos. Em outras palavras, pela sua longevidade, pela sua capacidade de se manter atemporal, universal. Pela sua quantidade de eternidade. A pergunta poderia ser: o quão tem este escritor de eternidade?

Eis, por fim, como conhecer a grandeza de um homem de letras. Sei que tal maneira é subjetiva, mas só a subjetividade pode conceder eternidade às coisas do espírito.

Saint-Exupéry tem a grandeza da eternidade. É eterno porque me fala ainda hoje. Fala ainda para minha filha. Ainda me arranca lágrimas e reflexões. Arranca risos da pequena Bruna. O cativar do principezinho é eterno.

Dessa forma acredito que cada um tenha seu grande escritor. Escritor que deixou letras eternas. Poderia citar muitos. Muitos que fizeram e ainda fazem minha mente e minhas mãos. Pois somos a soma de tudo o que vivemos, desejamos, sonhamos, cremos, amamos, etc.

Espero ainda ser um grande escritor. Contador de belas histórias. Já tenho alcançado bom caminho, pois tenho tido belos dias com minha filha e minha esposa. Nossa caminhada tem sido uma bela história. Nessa caminhada temos contado e vivido belas histórias.

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 29/11/2006
Código do texto: T304319
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