O convite

Ele já havia recebido vários tipos de convite, mas igual aquele jamais. Lembrara outra vez que recebera um cartão de convite que parecia mais com uma carta do que com um mero convite de casamento. Até gostava daqueles cartões padrões de convite. Havia para todos os motivos: casamentos, aniversários, chás-de-bebê, festas deversas. Mas aquele convite além de ser incomum conseguia perturbá-lo. Um convite jamais poderia constranger. Um convite é apenas um convite. Mas aquele era uma imposição, uma necessidade, uma ordem. Ele sabia que poderia recusá-lo, mas apenas recusá-lo era muito difícil. Pois, o convite incomum não o deixava indiferente. Não, jamais a indiferença poderia ser uma força contra aquele convite.

"Maldita hora que pensei em sair de casa hoje". Tal pensamento vinha em sua mente, mas ao mesmo tempo sua mente lhe devolvia um sentimento de vergonha, de fraqueza. "Como pude dizer isto? Diante de tal quadro desconcertante?" Jamais havia se encontrado em tal situação.

Um convite exige uma resposta, mas a resposta é fácil. Todos os convites nos chamam para delícias, ou seja, irrecusáveis. Convites de namoros. De festas. De formaturas. O convidado chega a ficar lisonjeado, mas aquele convite era diferente. Aquele convite exigia meditação. Não por causa daquele que convidava, mas por causa do próprio convidado. Quem convidava estava imune de suspeitas, mas o seu convite correspondia a toda uma existência. Chegou a dizer que a exigência do convite não era apenas uma aceitação simples, uma decisão natural; mas a decisão mais importante a ser tomada em sua existência.

"O que fazer?" A existência é uma coleção de escolhas, decisões; mas naquele momento a decisão seria o próprio sentido da existência. Como se negasse aquele sinistro convite poderia comprometer o sentido maior da vida. Como se tudo resumisse naquela resposta a ser dada. Sim, a essência da vida era justamente a resposta a ser dada. Mas o convite ainda estava ali, diante dele. Inisitia por uma resposta. Exigia uma postura. E aquela pequena palavra o atormentava e o atormentaria por toda a sua existência. E mais uma vez olhava nos olhos daquele que o convidava com uma voz doce e decidida daquele jovem da velha Jerusalém: "- Siga-me!"

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 29/11/2006
Código do texto: T304298
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