EU FAÇO POUCO
DE SEUS OUVIDOS MOUCOS!
Você se lembra de quando eu disse: - Preciso lhe falar, por favor, me ouça? Você se recorda de sua pressa, de sua frase feita: “estou ocupado agora”, de suas intermináveis noites de reuniões e do costumeiro cansaço? Lembra-se das raras vezes em que nos sentamos em um bar para tomar um chopinho e eu, tolamente esperançosa de que iria rolar um papo entre nós, mas você sempre descartava minhas falas e não cessava de se vangloriar de seu incrível sucesso no trabalho, de como era admirado por todos, inclusive pelas mulheres?
Você morria de medo de “discutir a relação”, mas o que fez questão de ignorar é que eu não estava interessada, nem um pouco, em assinar um tratado de exclusividade ou de relação vitalícia entre nós. Eu queria apenas que você me ouvisse. Que me enxergasse. Que considerasse a minha presença ao seu lado. Mas não! Você nunca quis ouvir. Só falava, falava e falava! As poucas palavras que ousei pronunciar caíram no precipício de seus ouvidos moucos, de seu egocentrismo pretensioso - como um pavão real!
É inacreditável como, depois de tanto tempo de “convivência”, eu tenha que recorrer à tecnologia para que você, finalmente, me ouça. Pois, enquanto você lê este e-mail, confortavelmente acomodado em seu trono, terá de fazer silêncio. Terá que ouvir a voz de seus pensamentos e, talvez (como lhe conheço muito bem), considerar-se um injustiçado e não compreendido. Não me importo com o que pensa, com sua análise equivocada sobre nós.
Não há mágoas, nem feridas a serem cicatrizadas. O que existe é um irrecuperável cansaço de você. E, no momento, a única certeza que tenho é que não quero mais escutar nem uma palavra que venha de você e, muito menos, falar para quem não quer me ouvir. Eu faço pouco de seus ouvidos moucos... Cansei!
(Milla Pereira)
Este texto faz parte do EC:
OUVIDOS MOUCOS
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