O POBRE "INIMIGO DO ONCINHA"
Antes de começar meu texto digo que minha crônica de hoje não é nada preconceituosa contra os pobres cachorrinhos, muito pelo contrário, é apenas uma antítese do meu texto de ontem " A POSE DOS POSUDOS", uma homenagem ao outro lado da vida, à vida mais simples, porém muito mais rica emocionalmente, da qual também os cachorros fazem parte.
Não resta dúvida: o cachorro é o melhor amigo do homem, estejam ambos em qualquer classe social estiverem.
Então, alguém que leu meu texto de ontem sobre os posudos me perguntou:" e você já viu como é triste cachorro de pobre...assim como o meu?"
Achei divertida a pergunta e aqui respondo que sim. "Já vi sim, mas diferente do seu".
E por incrível que possa parecer vi no mesmo dia e pelo mesmo caminho que avistei o tal cachorrinho "rico" posudamente vestido de oncinha.
Ah, as antíteses da vida!
Do outro lado da rua o pobrezito já se identificava pelo olhar. Não era UM SIMPLES "cachorro de pobre", se o fosse também prontamente se enxergaria à sua riquíssima felicidade.
Era um cachorro pobremente abandonado à miserabilidade.
Cachorro é um ser incrível. Tendo tudo não nos pede nada, e tendo nada, mesmo assim, nos dá de tudo.
Quando eu o olhei e lhe falei algo carinhoso parecia me pedir licença para me enxergar.Então, me rosnou algo que prontamente entendi.
E ele vinha cabisbaixo, humildemente meio que marcando seu território ainda estranho, de pelo ralo e opaco, orelhas murchas, rabo desanimado, sem agasalho em pleno frio...mas tinha brilho no olhar.
E como incomodou o seu "amigo oncinha" que lhe latia como se a calçada do lado de lá fosse só território dos cachorros-onças.
Foi ali que pude perceber que a "pose", de fato, permeia e contamina todos os ambientes...e todos os seres. Ninguém escapa.
Se a ele cachorro até " o oncinha" se declarava posudamente inimigo da sua classe social, que dizer dos "amigos da onça" cuja empáfia vai muito além das calçadas das ruas.
Conversamos um pouco e foi ali que entendi que aquele era um pobre cachorro dos mais ricos que já vi na vida. E nem precisava vestir oncinha...
Metáforas a parte, quão tristes são certas riquezas tão pobres...