ORGASMO DE FELICIDADE

Só o Eu Poético não tem medos e rotineiros temores. Viver bem nem sempre é “... não ter a vergonha de ser feliz”... Os olhos rútilos no passar do tempo cobram-nos o preço do momento tornado palpável, perceptível, factível. O gozo momentâneo, ainda que extemporâneo... Ficam na memória notas fiscais, duplicatas, fianças e avais. Tudo como registro dos custos amealhados. Também – e raramente insepulto – o foco indiscreto da luneta dos que desejam esse sabor inesquecível, mas que ainda não se encontraram com esse orgasmo de felicidade, devido à indisponibilidade para correr riscos. São aqueles que apenas desejariam SER, mas que permanecem no antepasto do restaurante italiano, no antegozo palatino... E, apesar do real lugar comum da vida, resta um sorriso amarelado que não é qualquer pasta dental que remove. O que ainda mais conforta é que, após o fugaz instante, ao menos os músculos da face se descontraem no riso primoroso das ousadias...

– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2013.

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