Porque rimos quando nos mostramos humanos

Um dia desses, estive relembrando minha época escolar. Quando íamos às aulas, conversávamos, saíamos apressados da escola. E também as brincadeiras e os motivos que mais nos fazia rir. E é sobre isso que desejo escrever: sobre o que nos fazia rir.

Rir é uma forma de nos defender, muitas vezes. Pelo riso nos escondemos atrás de uma aparente boa imagem, já que o riso sempre nos tenta confundir dizendo ser ele arauto de grandes doses de felicidade.

E o que nos fazia rir? Lógico, muitas coisas. Adolescentes parecem estar embevecidos, constantemente, de um torpor alcoólico. Tudo lhe é agradável e motivo de riso fácil. Mas, alguns risos mantêm-se até depois de adultos. E, se pensarmos bem, estes risos começam na infância. Rimos quando alguém cai, tropeça. Também rimos quando alguém fala em ou produz flatulências, fezes e urina. Mas, por quê?

Tais fatos, se levados ao pé da letra, ipso facto, não devem ser motivo de riso, já que são condições universais dos seres vivos. Todos os seres vivos excretam algo, caem; exceto as plantas, porque fixas. No entanto estas são comidas, muito facilmente, pelos seres herbívoros.

Ora, quando rimos do outro o fazemos de certa forma como que para humilhá-lo, para deixá-lo vexado. É uma forma tácita de dizermos que o indivíduo exibiu para todos uma condição que também é minha e que desejamos, a todo custo, esconder. A condição humana. Por isso tentamos humilhar ao outro, como se fossemos diferentes, como se fossemos seres que não participam dessa mesma condição.

No momento em que o outro produz estes excrementos ou caí, ele me mostra a minha condição humana e mortal, nossa extrema fragilidade frente às vicissitudes da vida e isso produz riso, pois somos risíveis. Como afirma o filósofo Luiz Felipe Pondé: “somos um cérebro que produz obras de arte, atrelado a um tubo digestivo”. Comparação felicíssima, pois o nosso aparelho digestivo lembra-nos, que podemos ser gênios, produtores de teorias e resultados inesperados e fantásticos, mas que se ficarmos alguns dias sem comer morremos, para jamais reaparecermos. Insisto sempre, bato nessa tecla: o Qohelet bíblico é um livro que deveria ser muito lido e muito apreciado. Para os crentes ele se lhes apresenta como anunciador de um Deus que é complacente e promete para seres frágeis como nós, a salvação. Aos não crentes ensina a humildade, pois há passagens de beleza e lirismo incríveis nos mostrando de que maneira somos orgulhos e de que maneira somos pó.

Laanardi
Enviado por Laanardi em 16/06/2011
Código do texto: T3038055
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