Dança comigo?
O aroma deleitante envolvia o ambiente, cálido como uma manhã de verão, uma mistura diversa de sabores, confusa infusão sobre meus sentidos, imposição prazerosa, determinação clara do que seria o próximo passo. Um vinho, um chocolate meio amargo, algumas ervas temperando o peixe e seus condimentos no fogo. “Dança comigo”? A cozinha transformou-se em espaço corpóreo do sagrado. Humildemente, um passo para o lado, dois para o outro. Buliçoso, seu corpo em contato com o meu, movimentos impossíveis de se descrever. Como eternizar aquele momento? Outra música, agora tão calma que os corpos praticamente se estabilizam. Não menos sensuais não menos intensos. Estrutura física audaciosa, anatomia harmoniosa, ato impulsivo, lábios se tocam em explosivo incontido, pavio aceso, impávido, o colosso se desponta, não há mais volta, não há mais fôlego, o período contínuo se dissipa. Não há mais o antes e muito menos o depois. Há somente um estado de absoluta confusão. Não sei quem sou em meio ao inaudito exercício das nossas capacidades motoras.