CRIADOR E CRIATURA

Só me lembro de ter aberto os olhos. Eram pessoas estranhas. Apenas uma parecia ser da minha convivência. As imagens vinham-me aos montes. Era coisa demais para eu entender. Aos poucos mais pessoas estavam ao meu redor, e quase todas tentando aconchegar-me, como se eu o quisesse.

Fui crescendo, as coisas tornavam-se mais claras, embora enigmáticas, misteriosas; sempre uma tese a ser defendida. Lembro-me de tê-lo feito com fervor, embora os resultados nem sempre fossem favoráveis.

Não me amarrei a fatos e dados, apenas tentei deixar transcorrer. Seguia o roteiro, cujo teor não era de minha competência, enquanto o roteirista brincava mudando a cada capítulo o curso da história, ora feliz, ora triste.

Os dias foram passando e não era possível retardá-los. Aos poucos fui perdendo as relíquias que me abastavam: minha mãe, a velha guerreira implacável; meu pai, amigo e companheiro, solitário após a ausência dela. Ainda me restavam algumas, todas, joias raras, as quais não sabia, se tornariam ausentes, seria meu presente para a posteridade.

Novamente tanta gente me rodeia, muitas do meu convívio algumas até desconheço. Vejo-me inerte e o semblante é indefinível.

Uma linha reta ou torta entre dois pontos distintos. A chegada e a partida, a luz e a escuridão. Nunca imaginei haver tanta coisa entre abrir e fechar os olhos. Porém o que mais me intriga, é não saber o que havia antes do ponto de início e o que me espera além do ponto final. A esse intervalo iluminado de uma reta ou curva, que nós, as criaturas, denominamos vida, por certo o criador definiria como segmento. E, quem sabe, seja o que nos bastaria conhecer.

Saulo Campos

Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 15/06/2011
Reeditado em 19/06/2011
Código do texto: T3037165
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