O CHUPA CATARRO
Eu e os meus avós morávamos em um grande terreno, vamos dizer que fosse uma mini chácara. Muitas plantas e flores, muitas árvores pequenas e outras maiores, umas galinhas presas outras soltas, uns dois casais de hamster e seus filhotinhos, um cachorrinho e uma gata; davam um cheiro típico e ar pleno de natureza doméstica.
O milharal, o canavial, amendoins plantados, pés de morango pelo chão... Uma grande roda formava a plantação do bananal, ao lado ficavam os pés de goiaba onde existiam muitos pássaros de vários tipos que comiam essas frutas assim que ficavam maduras. Lá eu também tinha toda a liberdade de comer os frutos da época e colhidos ainda no pé. A casa de cumeeira muito alta era de estilo colonial alemã, com reboco calcinado de um branco já gasto pelo tempo.
Tinha uma porteira feita de troncos, a partir dali um caminho (como se fosse um tapete gigante) de um lindo e verde gramado se estendia da beira da estrada até a escadaria da entrada da sala. Um pequeno paraíso que hoje, para as minhas lembranças foi especial. Uma família mudou-se para lá, eu estava com 12 anos aproximadamente.
Os novos vizinhos de cerca tinham uma casa e um terreno menor, eles vieram de uma cidadezinha do interior de Santa Catarina a qual nem me lembro mais o nome. O casal tinha oito filhos e eu logo fiquei amigo de todos. Com quem eu mais brincava era o Osmar, eu o chamava pelo apelido (Ma). Tínhamos a mesma idade. Garoto magro e cabelos castanhos, de pele clara como eu. Certo dia eu estava sentado no chão brincando sozinho, de repente ele apareceu do outro lado da cerca, me viu e chamou para perto, certamente no intuito de me convidar para brincar. Levantei e fui conversar com o meu amiguinho Ma.
Frente a frente, no decorrer do diálogo eu notei que o mesmo estava gripado e com uma forte coriza, com um pouco de nojo e talvez para não me contaminar me distanciei... De repente, de uma de suas narinas escorre um grosso filete amarelado/esverdeado de catarro, já estava quase ultrapassando o lábio superior; eu prontamente disse: Está escorrendo... Nem acabei a frase, ele deslocou um pouco o maxilar pra frente e, esticando o lábio em concha que serviu de aspirador, chupou todo o catarro pra dentro de sua boca e o engoliu, fez até um barulhinho assim, fissshhhh!!!
Ainda passou a língua entre o nariz e os lábios para limpar o restinho. Eu olhei tudo aquilo incrédulo, pasmo... Eu nem sabia o que falar no momento, se me recordo bem, eu lhe disse algo como: Ma, porque você não limpou? Não presta fazer isso...
Ele não pareceu de forma alguma se incomodar, apenas sorriu meio que resmungando e disse umas coisinhas, eu por minha vez não prestei atenção... Dei um rápido tchau e como já era perto das onze horas da manhã fui almoçar, (eu almoçava cedo por causa do horário de aula). O prato era arroz, feijão e ovo mal passado, (até hoje um dos meus pratos preferidos). A gema mole do ovo fazia lembrar perfeitamente aquele amarelo do catarro...
Eu almocei tranquilamente, depois fui estudar...
Eduardo Eugênio Batista
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