Às putas da minha esquina
Estou puta da cara. Ainda não dormi, mas isso é irrelevante, assim como o é a cama, que desarrumei sozinha. Triste e irrelevante. Assim como são os textos que leio quando entediada - e desconfio que os que escrevo também. Assim como são as putas da esquina avistada da janela do meu quarto. Vejo nelas uma solidão não menor que a minha.
Como se mensura a solidão? Pelo volume da pilha de louças numa pia? Pelo número de peças de roupas espalhadas pelos cantos de uma casa? Pelo volume, invisível, de notas nos bolsos das moças - nem tão moças - da minha esquina? Pelo tempo que uma moça, também nem tão moça, pode passar sozinha, "bem" sozinha, seminua na janela de um quarto bagunçado, numa madrugada, fria, observando putas cobertas pelo mesmo frio? Ou pelo despeito provocado ao compartilhar de um mesmo espaço com alguém que, visto de um referencial exacerbadamente elevado, parece tão pequeno?
Penso em beber. E bebo, porque tenho as bebidas e os copos apropriados, porque sou mulher e, como tal, ajo mais do que falo, falo mais do que penso, penso mais do que escrevo - e escrevo muito! Penso em fumar e fumo. Porque até minha decadência precisa estar completa! Penso em foder e... o telefone toca. Não é quem penso que fosse, mas... quando é? Ainda assim, qualquer palavra me cai bem com duas doses de martini. Desligo, olho ao redor, a bagunça está lá, no seu lugar... Se ela não tem pressa, porque teria eu?
Sigo lentamente, rumo à janela, de onde olho as minhas meninas, não tão meninas quanto gostariam de ser, nem minhas quanto gostaria que fossem. Percebo que uma delas já foi, encher os vazios, seus e deles. Os meus, continuam aqui. De onde vejo, a que restou me parece agora tão pequena para aquela esquina...
Talvez a solidão não tenha tamanho, mas a arrogância... esta, pode ser enorme quando vista de um andar acima! Mas, fazer o quê? Cada um olha a vida da janela que merece.