Pensar.
Pensar.
Esse ato tão natural e inerente ao homem, e cada vez menos ao homem moderno, acompanha gerações e gerações de nossa raça desde seu surgimento. Com períodos de puro pensamento a raça humana deu saltos quantitativos em seu conhecimento e foi depois da escrita, quando se popularizou com a criação dos alfabetos que deram origem ao que conhecemos hoje, que a liberdade do acesso ao conhecimento se deu.
Tivemos tempos de treva entre alguns períodos férteis. A barbárie, ignorante por natureza, invadia e roubava. Matava e aniquilava seus inimigos. E consequentemente todo o esclarecimento que eles haviam construído. Tivemos duas Idades das Trevas por conhecimento. Entre os séculos XII A.C. e IX A.C., e ainda entre os séculos IX D.C. e XIII D.C.
Nesses períodos, e alguém me corrija se estiver errado, o pensamento humano não evoluiu, não teve grandes êxitos. Pois o conhecimento foi negado a população. E se séculos antes do nascimento de Cristo as sociedades se achavam avançadas em muitos ramos da ciência, a sociedade não foi muito além em sua tecnologia por barreiras unicamente ideológica de seus dirigentes.
Já depois do século XIV de nossa era, a ciência vira uma base ótima para a tecnologia aplicada. Os utensílios que são criados ajudam em vários aspectos o dia a dia das pessoas. E um salto quantitativo na qualidade de vida é perceptível. Mas todo conhecimento e toda aplicabilidade que vemos hoje em dia não nos deixa fazer algo de básico, que deveria ser feito naturalmente, pois como disse anteriormente, é inerente ao ser. Pensar.
Hoje não pensamos. Vivemos. Hoje não raciocinamos. Pegamos tudo pronto que é oferecido e achamos que nós desenvolvemos tais pensamentos enlatados. Hoje a mente do ser humano está atrofiada. Infelizmente as pessoas que ensinam nossos filhos nas escolas são as mesmas da nossa própria sociedade. Eles não criam seres pensantes. Criam seres programáveis.
Como exigir de pessoas algo que está além de sua capacidade, pode ser a pergunta certa. Os nossos professores do ensino básico e fundamental estão tão englobados nessa ilha de boçalidade da sociedade quanto qualquer pessoa. E salvo alguns indivíduos, que seguindo ao conhecimento popular “uma andorinha não faz verão”, são conscientes e poderiam atiçar o conhecimento, o pensamento, a crítica, o bom senso de seus pupilos, a briga é imensa contra o resto da mediocridade.
Fui educado em colégios particulares. Conhecidos como colégios grandes. E percebo quão falha foi essa educação. Por minha sorte me interessei por livros, pesquisas, auto conhecimento, e aqui estou de uma forma que seria inimaginável se deixasse minha mente a mercê da educação da minha escola.
E cada vez mais eu percebo que a minha educação foi a mesma de todos os meus amigos. Variando somente o que se aprende em casa. Mas tenho quase certeza de afirmar que os pais de hoje não se prestam ao papel de sentar e ensinar nada em casa.
Vivemos num mundo ignóbil. Que não crê, nem minimamente, em seu futuro. Que não dá a mínima para o cidadão. Que nos atormenta diariamente com seu conceito de mundo perfeito. Que nos passa a idéia de que não existe futuro. Você, assim como o mundo, pode acabar amanhã mesmo. Não há esperança.
É nessa brecha que a ideologia do nosso querido capitalismo entra de rompante. Se não há futuro compre. Satisfaça seus instintos. Seja feliz agora. Muitas pessoas se sentirão ofendidas com essas palavras. Mas elas são idiotas, estúpidas, medíocres, ao entrar nesse ritmo de vida. Ao se engajar de corpo e alma nessa filosofia de vida.
Pessoas que vivem sem nenhum propósito a não ser serem felizes são aquelas que menos o conseguirão ser. Porque, por mais que consigam ter sua felicidade escapista agora no futuro, quando estiverem pensando e reavaliarem suas vidas, se depararão com a inutilidade dessas. Essa é a grande ironia da vida moderna. Vivemos frenéticos, de um lado para o outro. Estudamos, trabalhamos, desenvolvemos, nos arriscamos, transamos, bebemos, fazemos tudo o que podemos, menos pensar no que estamos fazendo. Mas quando envelhecemos a única coisa que não tínhamos tempo de fazer é a única coisa que nos resta. O ócio. Ao envelhecermos ganhamos o dom da paciência. Aquele que nos arrasta dia a dia. Aquele que nos faz lembrar que nossa existência está no fim. E aquele que faz com que reavaliemos toda nossa vida.
E é nessa hora, que, quando já ao fim de nossa vida, chegamos à conclusão de que alguma coisa estava errada. Alguma coisa não. Quase tudo estava errado. Mas aí, então, parece que estamos perdidos. Mas quase todos, ainda movidos pelo pensamento idiota que os consumiu na juventude, acha que está perdido e o tempo se perdeu. Quase nenhum ainda diz a si mesmo que até que o som da terra encontre o da madeira no seu enterro, ainda vivemos. E se somos seres vivos, pensamos. Se pensamos, podemos mudar alguma coisa a nossa volta.
Basta que para isso, tenhamos que fazer algo que é tão difícil quanto ganhar na loteria. Que parar e ficar entregue ao ócio é de fato uma perda de vida agora. Que se pararmos não fazemos nada de nossas vidas. Mas ainda acho que vale a pena perder alguns anos de juventude para uma velhice feliz do que fazer de tudo agora para chegar lá na frente deprimido. Temos uma grande arma, só não estamos usando. O ato de pensar.