Antônio e Valentino

"Dias dos Namorados é qualquer dia", pensei e sabia que havia outros tantos pensando isso comigo, afinal, essas datas não passam de empreitadas da mídia vendendo o seu peixe, empurrando flores goela a baixo; então nada mais sensato que a escolha que fiz. Pedi desculpa a Auri e disse que ia trabalhar no domingo.

Ela não reclamou, sabe que o quanto o trabalho era importante para mim e as coisas terminavam assim, até que encontrei Antônio no ônibus.

Negão, falante, alto e magro; ele falava ao celular sem parar e parecia contrariado: " você pede, depois não cuida; agora vem reclamar para mim que tudo foi para as cucuias. Se vira, meu!"

E ele desligava o telefone e comentava comigo o que ele pensava, como se eu o conhecesse.

- Pode, primo? - dizia - Esses Manés vivem pedindo as coisas e quando finalmente conseguem, não sabem manter. Bando de nóias!

Daí, o telefone tocava de novo...

" Sim, é o Antônio! Hum... Hãn...olha, meu amigo, eu recebo esses pedidos todo dia. É claro que eu vou cumprir o combinado, mas você vai fazer a sua parte? Sei!"

E lá ia o Antônio de novo, quebrando o pau com o sujeito que, provavelmente, estava pedindo ajuda a ele.

- Num te falei, primo! - Ele comentava comigo - Esse povo nasceu mesmo para viver só.

Comecei a desconfiar que Antônio deveria ter um emprego meio diferente quando o telefone tocou e ele ralhou com outra pessoa sobre algo bem inusitado:

" Que história é essa, Valentino? Que papo mais tolo. Amanhã é Dia dos Namorados e pronto, e é para você ficar com a sua namorada sim! Humm... Hãnnn...mais para de repetir essa ladainha que é data de mídia, Valentino! Mídia ou não, você tem namorada, primo! Vai cuidar da menina, meu! Deu um trabalhão para juntar vocês dois e agora você vem com esse papo de gente de amor que já passou?"

Quando Antônio desligou o telefone, eu já devia estar longe, de telefone na mão, dizendo a minha esposa:

" Honey, amanhã é Dia de Ficar e Trabalhar Só com Você!"